A cada dois anos é a mesma cena: interrompemos a programação para a transmissão do horário eleitoral gratuito reservado aos partidos políticos. Nos deparamos com santinhos, outdoors e propagandas constantes nos mais diversos meios de comunicação. Espaço para diálogo entre candidatos e eleitores ou simplesmente demagogia sobre mais do mesmo; seja qual for a estratégia, o meio é o instrumento fundamental para se atingir o fim que é ser eleito. Neste caso, para o bem ou para o mal, lá estará o marketing político como reflexo de uma sociedade pautada em um sistema mercadológico e consumista. Ciente da diferença entre marketing político e marketing eleitoral, aqui será tratado o assunto de modo geral e abrangente.
O marketing político é uma maneira de gerenciar a comunicação do candidato por meio de um conjunto de técnicas e métodos, com o intuito de evidenciar as virtudes e mitigar os vícios. Esta pode ser: (a) verbal - por meio da fala ou escrita; (b) não verbal - por meio de símbolos; (c) corporal - oriundo da gesticulação e postura. A interpretação e compreensão da mensagem fica subordinada ao repertório (crenças, vivência, comportamento) do receptor, assim como todo processo comunicacional sofre interferência de ruídos (sobretudo em tempos digitais). Mesmo não sendo a mesma coisa, é possível traçar um comparativo entre o marketing mercadológico e o político.
Fonte: http://oraculus.mx/2018/02/09/intercampanas-que-se-puede-hacer-y-que-no/
Ao invés de produtos na prateleira tem-se o candidato e o partido. A lógica é a mesma: busca-se diferenciar o produto (candidato) dos demais de um modo positivo, construindo a imagem de uma mercadoria (partido) útil e necessária, chamando a atenção do consumidor (eleitor) com o intuito da venda (voto) e da fidelização (filiação partidária). A ferramenta SWOT é muito utilizada tanto no âmbito empresarial quanto no âmbito eleitoral; a mesma serve para uma avaliação de pontos fortes e fracos para a construção de um planejamento contendo riscos e oportunidades.
Desse modo, busca-se o ciclo representado pela sigla AIDAS: A - chamar a Atenção; I - despertar o Interesse; D - acender o Desejo; A - levar à Ação; S - obter a Satisfação do cliente (eleitor). Assim tem-se as fases da campanha: (a) introdução - gerar credibilidade da marca (partido e/ou candidato); (b) crescimento - ressaltar as qualidades do produto diante da competição com os adversários; (c) maturidade - consolidação da marca; (d) declínio - reposicionamento (reinvenção, renovação). Importante destacar aqui o papel das redes sociais. A internet derruba fronteiras e a cada ano que passa atinge um público cada vez maior.
Fonte: http://ventas3e.blogspot.com.br/2015/10/segmentacion-mercados-meta-y.html
Não adianta deixar tudo para a última hora. Tanto o partido quanto os candidatos devem ter um planejamento de pelo menos um ano de antecedência. Obviamente que isso não deve ser configurado como campanha antecipada, mas sim na definição de estratégias, esclarecimento do objetivo, formas de ação, indicadores, equipe e distribuição do orçamento. Uma forma de facilitar o desenho de determinada campanha é utilizando-se dos níveis de planejamento: (a) estratégico - desenvolve uma missão clara, objetivos pontuais e estratégias factíveis de longo prazo; (b) tático - estabelece o "onde" e o "como" cujos gestores planejam as ações em médio prazo; (c) operacional - estabelece "o que" deve ser feito e "quem" o fará em um curto espaço de tempo.
Um dos fatores determinantes para o sucesso (ou fracasso) de uma campanha eleitoral é a questão do orçamento. Este é a ponte entre planejamento e execução aonde nem sempre a campanha mais cara é sinônimo de qualidade e bom desempenho. É preciso saber como utilizar os recursos disponíveis, sejam eles vastos ou escassos. No Brasil criou-se o mal hábito de campanhas extremamente caras em que os marqueteiros saem milionários, muitas vezes com recursos obscuros e ilícitos, envolvendo candidatos, empresários, partidos e marqueteiros em escândalos de corrupção.
Fonte: http://www.dosedemarketing.com.br/marketing-politico/
O acompanhamento deve ser realizado de perto, tendo-se em mente que os primeiros 25% dos recursos são os mais difíceis de se obter. As variáveis relacionam-se com o desempenho apontado, sobretudo, por meio de pesquisas de intenção de votos. O intuito do marketing eleitoral é converter o esforço da campanha em votos. Vale aqui destacar a diferença entre cabos eleitorais e militantes, sendo que os primeiros são remunerados (vendedores) e os últimos são voluntários. Ainda sobre as principais áreas entre as funções da mercadologia é possível citar: (a) gerência de produto - campanha eleitoral; (b) definição do preço - aceitação das ideias centrais do candidato; (c) distribuição - logística de material, reuniões e alianças; (d) publicidade - divulgação da marca com o intuito de atingir o público-alvo; (e) venda - dia da eleição, votos.
Como dito no post anterior sobre políticas públicas, é preciso ter como base uma plataforma de governo sólida, sustentável e factível. O marketing faz parte do jogo político e por isso deve ser pautado por ética e transparência, seguindo as regras do jogo. As pesquisas qualitativas são fundamentais para a compreensão da composição e interesse da sociedade. Já as pesquisas quantitativas servem para a análise do cenário e avaliação de desempenho. É preciso ter cautelada nas propagandas e campanhas publicitárias, pois sempre há um interesse (seja implícito ou explícito). Do mesmo modo que não se deve comprar um produto apenas pela aparência ou pelo papo do vendedor, o mesmo aplica-se na política. É preciso pensar e refletir durante o processo de escolha.
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