A Guerra Fria persiste, viva na sociedade internacional como há décadas não ocorria. Imagino qual seria a reação de um viajante do tempo que se transportasse até os dias atuais. Mais do mesmo? Basta abrir o jornal e se deparar com notícias de espiões russos, testes de misseis nucleares na península coreana, guerra comercial propagada pelos estadunidenses (até então símbolos do neoliberalismo), interferências polarizadas na Guerra da Síria, Turquia saudosa do império Otomano, intervenção federal com atuação direta dos militares no Rio de Janeiro. Ufa, parece que os anos 60 não acabaram.
De um lado os Estados Unidos da América e o seu capitalismo selvagem, do outro a União Soviética e o socialismo autoritário. Nem tanto, nem tão longe. Após a queda do muro de Berlim em 1989 e com o fim da União Soviética em 1991 acreditou-se que a Guerra Fria havia terminado, após anos de polarização mundial entre opostos que disputavam a soberania global desde o término da Segunda Guerra Mundial em 1945. Era o sonho americano se concretizando: exploração mundial, expansão do lobby da democracia representativa pelos países, predomínio dos assuntos estadunidenses na agenda da ONU, poderio militar, econômico e político. Doce ilusão. Os fatos se contrapuseram aos interesses. Já dizia Raul: "sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só".
Não que os estadunidenses não tenham gozada por um período da hegemonia internacional. Com o seu principal oponente em frangalhos, juntando os cacos de uma separação nem sempre amigável, EUA e companhia limitada lideraram os rumos globais sem grandes oposições. A União Europeia ampliava a sua força como bloco, integrando-se totalmente, mais unida do que nunca. É bem verdade que o poder sobe à cabeça, mas também cega. Um urso ferido ainda continuará sendo um urso.
Fonte: https://passeinafuvest.wordpress.com/2015/08/21/guerra-fria/
Na América o domínio estadunidense era incontestável, cogitou-se até em criar a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) que seria um passaporte para mandos e desmandos do Tio Sam pelo continente. Em terras tupiniquins, Collor abria todas as portas e janelas, até as entranhas, escancarando um país doente (sobretudo economicamente) para o mundo exterior, quebrando o país internamente. Sempre fomos bons aliados, relação intensificada no começo da ditadura militar de 1964, mas o retorno à escravidão seria demais não é mesmo? Talvez Temer e sua equipe discordem. Enfim...
Estados e sociedades são dinâmicos, agindo mesmo enquanto aparente inércia (basta constatar as manobras da Alemanha no período entre guerras, recuperando-se da Primeira Guerra Mundial e preparando-se para a Segunda). O imponderável estadunidense começou a despontar em 11 de setembro de 2001 e nas posteriores guerras contra o terror, enxergando armas químicas até onde não existiam (Iraque). Teorias da conspiração à parte, o fato é que os EUA intensificaram a sua influência exterior por caminhos tortos.
O auge para a eclosão da Guerra Fria do Século XXI pode ser entendida pelo viés sociológico por meio de uma comunidade internacional afetada cada vez mais por ideias de isolamento, nacionalismo e enfrentamento ao contraditório. A onda conservadora atinge novamente, já vimos esse filme antes e o saldo foi negativo. Se aprender com os erros é inerente à racionalidade-lógica humana então ou não somos tão racionais como pensamos ou não aprendemos nada. Enquanto isso a China desponta economicamente, mesmo sendo uma nação com obstruções à liberdade, destronando os reis capitalistas em seu próprio jogo.
Fonte: https://conceitos.com/guerra-fria/
A União Europeia começou a balançar com as crises migratórios e econômicas (sobretudo a grega). O estopim partiu da tradicional arrogância inglesa, querendo mais destaque do que realmente tem e votando pelo Brexit. Avisem a rainha que o Século XIX já terminou. Enquanto isso, a Rússia crescia com Putin, um ditador moderno que caça e posa aos jornais. Determinado em suas próprias convicções de uma Rússia grande, tomou a Crimeia por meio de uma Guerra contra a Ucrânia em pleno quintal europeu. Um verdadeiro czar contemporâneo. O mundo apenas abaixou a cabeça e aceitou (lembrando a anexação dos Sudetos por um alemão de bigode). Na Guerra da Síria novamente a Rússia deu as cartas, salvando o seu aliado e transformando estadunidenses e aliados em coadjuvantes.
O ponto principal para a polarização entre Rússia e Estados Unidos está justamente na eleição de Donald Trump (nada como a democracia representativa não é mesmo?!). Aproveitando-se de um discurso midiático e populista, Trump surpreendeu a todos sendo eleito em meio a denúncias de influência russa nas eleições em favor do mesmo, acusado pelos próprios órgãos de segurança estadunidense (CIA e FBI). Como convencer uma criança a combater o seu ídolo?
Posteriormente teve o embate entre Trump e Kim Jong Un, dois mimados brigando por atenção e que depois das ameaças terão um encontro e podem até se tornar amiguinhos. Convenhamos: quer ter relevância global e respeito internacional? Desenvolva armas nucleares e entre para o seleto grupinho. Enquanto isso a China cria ilhas artificiais no oceano, dando vazão ao seu expansionismo e atuando como ator principal entre Coréia do Norte e EUA. Quem é que dá as cartas mesmo?
Fonte: https://br.sputniknews.com/americas/201708149104042-trump-melhor-amigo-putin/
Agora a Rússia vem sendo acusada de matar compatriotas em território alheio, o que gerou uma grande retaliação diplomática conjunta dos seus antigos oponentes, incluindo até a OTAN. O que a Rússia fez? Respondeu na mesma moeda. E assim segue a Guerra Fria, tão quente quanto antes. Vela destacar que a China já lançou o seu primeiro caça invisível, transformando-se não só em uma potência econômica, mas também bélica. O país está aproveitando os rios de dinheiro bebendo na fonte capitalista, atualizando-se e armando-se cada vez mais. Somente EUA, Rússia, Japão e Coréia do Sul possuem tal tecnologia de ponta.
Enquanto isso o Brasil continua imerso em seus próprios problemas, semelhante há décadas passadas, polarizado em busca de uma identidade que corresponda ao tamanho do país. Grande demais em espaço, pequeno demais para as pessoas. A desculpa é o clichê de sempre: a culpa é da oposição e dos socialistas. Nada como um circo armado e um teatro para entreter o público interno. Fuzis nas mãos de civis como celebração.
Enquanto isso o Brasil continua imerso em seus próprios problemas, semelhante há décadas passadas, polarizado em busca de uma identidade que corresponda ao tamanho do país. Grande demais em espaço, pequeno demais para as pessoas. A desculpa é o clichê de sempre: a culpa é da oposição e dos socialistas. Nada como um circo armado e um teatro para entreter o público interno. Fuzis nas mãos de civis como celebração.
O erro de cálculo estadunidense com o fim da União Soviética torna-se evidente. Afinal, há tempos os mesmos não tinham tanta concorrência internacional no âmbito político, econômico e militar. Obviamente que continuam poderosos e relevantes, principalmente no Twitter. Não que a inteligência cibernética não seja fundamental em uma sociedade capitalista globalizada, mas é preciso mais do que isso para ter respeito e aliados. Se antes o inimigo era a ideologia comunista, hoje o lobo veste-se de cordeiro, senta-se na mesa com ternos de grife e bebe doses de mercadorias na fonte consumista do capitalismo. Em meio a ditadores e líderes excêntricos, tanto as sociedades internacionais quanto os Estados carecem de humanidade. O futuro é incerto, mas o passado deixa rastros que ao se repetirem podem apontar uma direção.
Liberdade, igualdade e fraternidade (ainda que tardia)!!!!!!
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