quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Reflexão sobre a sexta-feira negra (black friday)

Evento de consumo iniciado nos Estados Unidos como uma forma de inaugurar a temporada de compras natalinas que se popularizou durante a década de 70 e posteriormente foi propagado para o mundo, sobretudo para os países ocidentais que possuem essa cultura de apreço ao acúmulo, status e aparência. Presente no Brasil desde novembro de 2010, a data já se tornou um evento garantido no calendário do país (como sempre se espelhando no exemplo vindo do seu ídolo do norte). A sexta-feira negra sempre ocorre em novembro como uma forma de preencher o "vazio" entre outubro (caracterizado pelo dia das crianças e halloween) e dezembro (caracterizado pelo natal e preparativos para o ano novo). Uma data a mais para gastar, um fetiche, uma fantasia.

Semana negra, mas não pelo dia da consciência. O estímulo às compras é inerente ao sistema, pois capitalismo é consumo e não há tipificação maior do que o processo de compra e venda em massa. Afinal, a propaganda diz que você precisa adquirir tal produto, mesmo que não seja uma real necessidade. O apelo ao consumo é tanto que em todos os anos não são raras as imagens de pessoas formando filas e se espremendo dentro das lojas para adquirir itens supostamente em promoção. Em alguns casos as pessoas estão ali para pegar qualquer coisa, o que vier primeiro. Uma ótima forma de se endividar!

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Fonte: http://www.fr.de/wirtschaft/black-friday-wahnsinn-made-in-the-usa-a-291997

O comércio agradece, pois o último trimestre do ano é aquele que apresenta melhores resultados nos indicadores que aferem a economia. Seja por meio do e-commerce (lojas virtuais) ou pelo tradicional modo de compras físicas, o fato é que a black friday não para de crescer. O faturamento por parte dos empresários é tanto que nos últimos anos ultrapassou a barreira dos bilhões de reais gastos. A sexta-feira negra está tão abrangente no país que praticamente tudo é comercializado; produtos, bens e serviços: turismo, móveis, imóveis, carros, artigos infantis, utensílios domésticos, farmacêuticos, cosméticos, entre tantos outros. Logicamente que tal fato gera empregos temporários, mas o prazo de validade é curto.

Trata-se de uma verdadeira anarquia do capital sem nenhum tipo de regulamentação ou organização central. Cada empresa realiza as suas promoções dos produtos que melhor lhe convir. Cada loja dá os descontos que achar conveniente sem a interferência de governo, associação ou qualquer tipo de entidade. Abusando das estratégias de marketing, a black friday desperta os desejos do consumidor e aflora a impulsividade irracional do ser humano. Cabe ao cliente ficar esperto. Compra quem quer, quem pode, quem necessita ou não. Nada melhor do que curar uma decepção com o cartão de crédito carregado. É psicológico, dizem os especialistas. Quanto aos outros resta assistir ao abismo da clivagem social. Negócios são negócios, marcas, subprodutos. Nada pessoal, um salve ao consumismo!

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Fonte: http://www.anarquista.net/natal-do-consumismo-consumo-desenfreado/

É inevitável falar de sexta-feira negra sem comentar sobre as fraudes. O oportunismo de um bom negócio muitas vezes rompe a barreira da legalidade e da moralidade tornando inúmeros os casos de propaganda enganosa ou mesmo de golpe. Os casos vão desde anúncios que ofertam produtos inexistentes até mesmo casos de entrega de mercadorias com falha ou de valor inferior ao adquirido. Isso sem contar as denúncias que apontam aumento proposital dos preços das mercadorias para, posteriormente, abaixá-los anunciando uma "nova promoção imperdível". É a lei do mercado: oferta e procura. O neoliberalismo sem controle e sem equilíbrio tão sonhado de forma utópica. No final das contas o resultado é o mesmo: trata-se da lei do mais forte.

Boa parte das fraudes ocorre no ambiente virtual, mas esta não é uma exclusividade das vendas online. Por vezes, a doce e prazerosa ilusão da compra torna-se uma dura realidade na justiça. Afinal, ninguém quer perder a oportunidade de ostentar em um momento tão único de celebração ao consumo e é justamente nesse momento de desatenção e vulnerabilidade que os indivíduos são passados para trás. O sustento do capitalismo é o consumo desenfreado, qualquer coisa fora isso é crise. Mas o que comprar, quando comprar, como comprar se boa parte da população mal consegue se manter no dia-a-dia? Como viver com qualidade e conforto se mal é possível sobreviver? Um sacrifício desnecessário em prol da inutilidade. Você é o que é ou o que tem?

Fonte: https://www.hardware.com.br/noticias/2017-11/blacky-friday-brasileira-movimentou-em-2017-48-bilhoes-nas-lojas-virtuais.html

Vitrines repletas de produtos, mercadorias em off, condições imperdíveis, parcelamento no cartão em até doze vezes sem juros. Todos querem fazer parte do fluxo, correndo na mesma direção, disputando supérfluos, brigando para ver quem consegue mais com o menor preço. Rastejando-se na entrada das lojas entupidas de pessoas agindo como vermes, um sobre o outro, um por cima do outro, nada mais característico do que a nossa condição animalesca. Compre, venda, mude, troque, consuma, tenha, mostre, divulgue, compartilhe, ostente. Corra, pois é por tempo (i)limitado. Black friday, week or month. Não importa. Tudo tenha, nada seja, tenha tudo, seja nada.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Reflexão sobre os fluxos migratórios

Nos primórdios da humanidade o nomadismo (aquele que não tem habitação fixa e que vive em constante mudança) era uma condição comum. Mudava-se em busca de terras férteis, comida farta, clima favorável para a sobrevivência. Com o aperfeiçoamento das técnicas de plantio, extrativismo, coleta de alimento, invenção da propriedade privada e progressiva ascensão da tecnologia, o ser humano passou a se fixar em um local determinado, sem a necessidade de constantes deslocamentos. Entretanto, as pessoas continuam mudando, por vezes para obter um salto na formação acadêmica, noutras para fugir da fome e do frio. Mas, ao contrário da liberdade de fluxo de outrora, agora as portas insistem em se fechar, assim como as fronteiras (linhas imaginárias que separam fisicamente os povos ao invés de uni-los).

Segundo o site Significados pode-se definir migração como movimento dentro de um espaço geográfico de forma temporária ou permanente. Pode ser caracterizado como fluxo de entrada (imigração) ou saída (emigração) de indivíduos em busca de melhores condições de vida. Por motivos econômicos, religiosos, políticos, culturais ou até mesmo ambientais, pessoas abandonam suas raízes rumo ao incerto. Em muitos casos é a única alternativa. Em situações extremas, as condições são tão precárias que abandonar tudo é menos pior do que permanecer.

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Fonte: http://www.cidadaocultura.com.br/migracao-e-relacionamentos/

Quanto à tipologia é possível classificar entre migrações internacionais e internas. No primeiro tipo há o deslocamento de um país para outro dividindo-se em: (a) imigração - entrada de indivíduos ou grupos em outro país; (b) emigração - saída de indivíduos ou grupos de seu país de origem configurando-se no oposto do conceito referente ao imigrante. Portanto, é possível notar que a diferença entre ambos está no ponto de vista de quem os vê. Controle e fiscalização são necessários, mas não se pode esquecer as próprias origens e perder a essência humana. Nem sempre o mais fácil é o melhor a se fazer. Quem nunca precisou de uma mão estendida para ter uma oportunidade de se levantar?

A xenofobia (aversão a indivíduos ou coisas estrangeiras) também é um fator que paira sob o olhar de cada indivíduo, sobretudo em tempos de protecionismo, nacionalismo e extremismo. A xenofobia é caracteriza pela deficiência de empatia em se colocar no lugar do outro gerando preconceito por meio de uma visão puritana de superioridade. No fundo, são todos feitos de carne, osso e sangue que nasceram e morrerão independentemente de crença, etnia, classe social ou cor. Assim sendo, se faz necessário limpar as próprias lentes com frequência.

Fonte: https://www.institutoliberal.org.br/blog/migracao-cultura-e-o-principio-da-presuncao-de-inocencia/

Sobre as migrações internas é possível classificá-las em: (a) êxodo rural - deslocamento do campo para a cidade; (b) êxodo urbano - deslocamento da cidade para o campo; (c) urbana-urbana - deslocamento de indivíduos de uma cidade para outra (zonas urbanas); (d) pendular - tipicamente de regiões metropolitanas e grandes perímetros urbanos no qual a pessoa se desloca de sua cidade de origem para outra cidade por motivos de trabalho ou estudo, retornando à cidade de origem ao final do dia (cidade dormitório); (e) sazonal - caracterizada quando o migrante sai de sua cidade em determinado período do ano (geralmente ligada às estações) retornando posteriormente.

A indiferença é uma situação recorrente na atualidade. É mais fácil fechar a porta do que estender as mãos. Ninguém quer admitir o sangue nativo do indígena, a descendência africana, a miscigenação comum. Querem ser os americanos que desprezam aqueles que constroem os prédios, que limpam as ruas, que faxinam as casas, que lustram os sapatos, que cuidam dos bebês, que mobilizam militares para combater civis desarmados, que iniciam uma guerra comercial. Querem ser os europeus que fecham as fronteiras depois de dividirem o mundo, explorar recursos, subjugar povos moldando-os de acordo com a sua própria lente eurocentrista. A cultura é o que somos de fato.

Fonte: http://www.comciencia.br/origem-e-destino-migrantes-sofrem-violencia-em-todas-as-pontas-da-jornada/

É o filho que parte para estudar, o pai que sai em busca de um emprego, a família que foge das bombas, o bairro que some devido à lama de uma barragem que se rompe. É o indivíduo que corre da seca, da estiagem, do frio extremo, da miséria. É o deslocamento por um sonho ou simplesmente esperança por dias melhores. É a procura por abrigo, um lugar seguro, talvez apenas um abraço que afaste a violência e a insegurança. É a oportunidade de trabalho, uma chance de sobreviver. É o deslocamento do medo, muitas vezes involuntário, sem destino certo. São os olhares indiscretos da vizinhança, os irmãos separados na fronteira, a mãe que só deseja um lugar melhor em meio ao caos da guerra. É a família que permanece unida orando em um campo de refugiados.

domingo, 11 de novembro de 2018

Reflexão sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é o principal evento dentro da agenda acadêmica dos estudantes do país até o ensino médio. Tamanho peso chega a ser desproporcional dentro do grande calendário cujos estudantes são submetidos ao longo do período escolar. Basicamente, em dois dias os alunos colocam em jogo o destino de uma vida de estudos até então. Ou seja, duas provas que buscam aferir o conhecimento adquirido em mais de dez anos em salas de aula.

O ENEM foi criado em 1998 objetivando inicialmente avaliar a qualidade do ensino nacional com ênfase ao período do ensino médio. Sob a responsabilidade do Ministério da Educação (MEC) e realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), o projeto logo se desenvolveu para o ingresso de estudantes no ensino superior. Atualmente, o seu resultado serve como porta de entrada para as principais universidades públicas do Brasil por meio do Sistema de Seleção Unificada (SISU). 

Fonte: http://noticias.universia.com.br/cultura/noticia/2017/11/02/1156370/5-dicas-dia-prova-enem-2017.html

Também é utilizado para o ingresso em instituições privadas e faculdades no exterior como, por exemplo, algumas universidades portuguesas. Através do processo seletivo é possível obter bolsas (parciais ou integrais) pelo Programa Universidade para Todos (PROUNI) ou conseguir financiamento estudantil por meio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES). Portanto, a abrangência do exame se ampliou de forma considerável, impulsionada, sobretudo, pelas gestões federais no início do século XXI. Para se ter uma ideia, o ENEM é considerado o maior vestibular do país e o segundo maior do mundo, segundo o RankBrasil (ficando atrás apenas da China).

O mesmo foi concebido inicialmente para somente um dia de prova com 63 questões. Posteriormente, o número de questões pulou para 180 e uma redação dividindo-se assim em dois dias de exame. Alvo de algumas polêmicas como temas abordados e denúncias de vazamento de questões marcam a história do exame que busca se aperfeiçoar com o tempo. A problemática aqui não é o método de prova do ENEM em si, mas o sistema de avaliar mais de uma década de estudo do aluno em apenas algumas questões diversificadas em dois dias de aplicação do exame. 

A responsabilidade e, consequentemente, a pressão embutida nos ombros dos jovens é enorme. O resultado final das provas pode não condizer com a carreira estudantil do aluno. Defendo um modelo de meritocracia que leva em consideração a vida acadêmica do estudante, seja integral (contemplando os ensinos fundamental e médio), seja por meio de um corte (levando em consideração apenas o desempenho durante o ensino médio). O método de avaliação por duas provas gera um acúmulo de assuntos e estresse, sem contar os gastos públicos com a realização do evento. É necessário investir na ampliação de disciplinas do ensino médio para o período integral com mais prática de esportes, jogos lúdicos, planejamento familiar, economia doméstica, noções de manutenção residencial, introdução ao direito, etc; e não a compactação de disciplinas com redução de investimentos.

ENEM 2019
Fonte: https://edemocracia.camara.leg.br/expressao/t/gabarito-enem-2019/59048

Uma análise de desempenho por aluno de acordo com sua vida acadêmica daria subsídios para investimentos mais robustos nos conteúdos e recursos de sala de aula (incluindo o professor, principal ferramenta neste processo). O acompanhamento semestral representará muito mais a realidade do que apenas dois dias. O ingresso ao ensino superior deve estar atrelado aos resultados anteriores obtidos por cada aluno, incluindo no pacote não somente as notas em si, mas também o fator comportamental. Não adianta ir relativamente bem nos testes e agredir colegas, depredar o patrimônio público ou desrespeitar professores e demais funcionários. O foco deve estar no conhecimento e não na decoreba. Para tanto, é preciso haver monitoramento para auxiliar o estudante e fiscalização na rotina escolar.

O ENEM é um processo que está em constante transformação em busca da melhoria contínua. A autonomia de suas autarquias deve ser mantida, ao contrário da interferência defendida pelo presidente eleito sobre questões da prova. Cada um no seu quadrado, desempenhando as funções relativas à sua respectiva caixinha e respeitando o trabalhado desenvolvido pelas entidades responsáveis. Entretanto, condicionar o ingresso às universidades por meio do desempenho curricular anterior do estudante é um processo mais justo para todos (alunos, professores, governo e instituições de ensino).


terça-feira, 6 de novembro de 2018

Reflexão sobre as relações internacionais do Brasil

O Brasil possui uma longa tradição diplomática no cenário internacional; afinal, os Estados mantêm relações entre si. Formalmente, cada país é semelhante aos demais no que diz respeito às funções desempenhadas porque não há um Estado que comande os demais, constituindo-se assim um sistema descentralizado. Em um planeta cujas barreiras foram ultrapassadas por meio da tecnologia e do próprio processo de globalização, um acontecimento do outro lado do mundo é acompanhando ao vivo por qualquer pessoa que possua acesso à internet. Assim sendo, as relações internacionais são essenciais para o desenvolvimento das nações. Cada governo que assume o poder é responsável pela manutenção ou alteração dos acordos exteriores.

Segundo o artigo 4° da Constituição Federal são expressos os princípios da não-intervenção, autodeterminação dos povos, cooperação internacional e solução pacífica dos conflitos. Tal política externa deve ser construída pelo poder executivo federal com o apoio do Ministério das Relações Exteriores (conhecido também por Itamaraty). Portanto, o âmbito diplomático é responsável por acordos, negociações e representações. Logicamente que cada governo possui sua respectiva visão de mundo, mas esta deve estar de acordo com os fundamentos básicos das relações externas.

faculdade de Relações Internacionais
Fonte: http://www.estaciocarreiras.com.br/blog/tudo-sobre-o-curso-de-relacoes-internacionais/

Historicamente, o Brasil possui forte relacionamento comercial (presente em todos os continentes do globo) e neutralidade em busca da paz com relação a conflitos entre nações. A preferência por relações com países desenvolvidos se deve pela troca de produtos e interesses. Todavia, nas últimas décadas o país ampliou sua presença em países do eixo sul, participando ativamente em diversas frentes de integração regional. Membro da ONU (Organização das Nações Unidas) e do Mercosul (Mercado Comum do Sul), o país se vê agora sob um novo dilema internacional voltado para a cópia das políticas externas dos Estados Unidos.

Primeiramente é preciso entender as características e identidades do país, pois por mais simples que pareça é preciso afirmar que o Brasil não é os EUA. Portanto, qualquer ação feita de antemão terá uma tratativa e impactos diferentes nos atores envolvidos. Uma coisa é a principal potência atual, tanto economicamente quanto militarmente, bater de frente com a China em uma guerra comercial e em outros assuntos delicados. Outra coisa é um país em desenvolvimento sem grandes interferências externas querer adotar as mesmas práticas. São atores diferentes cujos contextos serão diferentes.

O que são Relações internacionais do Brasil?
Fonte: https://www.stive.com.br/3975-relacoes-internacionais-do-brasil.html

O governo eleito pretender estreitar as relações com Israel e EUA, o que obviamente é uma afirmação favorável ao país. O problema está na renúncia da neutralidade em conflitos externos que não dizem respeito ao país como, por exemplo, imitar os estadunidenses na transferência da embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém, confrontando diretamente os interesses árabes. 

Vale lembrar que o Brasil movimenta bilhões por ano em transações comerciais com estes mesmos países árabes. Assumir um posicionamento desnecessário nessa situação seria uma canelada inicial. O presidente eleito já afirmou não reconhecer a Palestina como um Estado, contrariando um posicionamento já adotado pelo Brasil e pela ONU. Novamente: a relação estratégica entre Israel e Estados Unidos é muito diferente da relação entre o Brasil com os demais. É preciso ser realista, somos muito mais dependentes.

Outra questão polêmica é a saída do Mercosul. Desse modo, o presidente eleito planeja realizar acordos bilaterais ao invés de acordos em blocos. Assim, o país viraria as costas para os seus vizinhos em um ato de buscar apenas o benefício próprio ao invés da colaboração regional. Neste caso é preciso ressaltar que o Brasil tem amplas negociações com a Argentina e o impacto de uma eventual retirada do país no bloco será negativa. Tudo está interligado e é preciso ter cuidado para não se perder com as peças do quebra-cabeça.

Fonte: http://internacionalamazonia.blogspot.com/2013/10/curso-de-relacoes-internacionais-da_22.html

O Brasil é grande exportador de matéria-prima tendo pouca relevância no sistema internacional no que diz respeito à inovação e pesquisa. A competitividade industrial e capacidade de investimento são baixos, daí resulta que no geral países subdesenvolvidos carecem da manufatura e tecnologia de outro país subdesenvolvido (e não o contrário). Em um sistema capitalista o resultado final é o custo-benefício. Se o país não é competitivo em termos de valor de mercadoria e/ou qualidade do produto não há muito o que chorar em possíveis novas relações diplomáticas. O protecionismo vai contra o próprio neoliberalismo defendido por integrantes do novo governo e pode transformar o Brasil em uma ilha.

O presidente eleito disse não ser ideológico, mas suas propostas provam o contrário. O mesmo afirmou durante o período eleitoral que mudará as relações com a China (país este maior parceiro tanto em exportação quanto em importação). Ele afirmou que não permitirá que o Brasil seja comprado pelos chineses. O novo regime diz não compactuar com os regimes venezuelanos, cubanos e chineses; entretanto, não aplica a mesma retórica para parcerias com os sauditas, Guiné Equatorial e demais ditaduras. 

Bolsonaro, assim como o seu ídolo Trump, vira as costas para o diálogo e fecha os olhos para contradições. Desse modo, perde espaço internacional e relevância política. A participação  internacional do Brasil como a realizada no Haiti pelo exército é essencial para a manutenção de um Estado que soma ao invés de dividir, pacificador e neutro. Lavar as mãos para questões próximas, sem dialogar, só faz a imagem do país retroceder no exterior. Talvez a solução seja alugar o Brasil.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Reflexão sobre o homem invisível

Somente o amor salva
Um homem caminha sozinho pelo asfalto
Pé no chão, descalço
Revirando entulho para conseguir sustento
Afinal, onde se vê lixo ele vê futuro
Atravessa a cidade das cinco da manhã até cinco da tarde
Acorda cedo, dorme cedo
Deita para não pensar, para não ter fome
Exausto pela rotina
Trabalha sete dias por semana
Sem pão nem leite no café da manhã
No escuro ele carrega o carrinho para recolher os itens descartados
Reutilizando e reciclando para que o planeta tenha um fôlego extra
Faz para sobreviver
Ninguém quer ser coadjuvante dentro da sociedade
Mas as pessoas estão tão ocupadas ultimamente
Presas em suas próprias telas
Celas eletrônicas da pós-modernidade
Telas de celulares, computadores, televisão

Fonte: http://supercomentario.com.br/2011/02/07/50-fotos-do-homem-invisivel/

Agora todo mundo é dono da verdade
Um homem só caminha
Um olhar indiscreto, incrédulo
Olhos de preconceito
Com seu fiel cachorro ao lado
Continua honesto apesar de ser maltratado
Ele é quem puxa a carga
O carrinho pesa nos ombros
Dói as costas, dói as pernas
Passa sem ser visto
Cabelo comprido, barba por fazer
Tanto faz a cor da sua pele
Apenas mais um homem invisível
Um número real que parece imaginário
No rosto aparenta cinquenta anos de idade
Possui um pouco mais da metade
Sociedade de clivagens, castas que fingem não ver
Quem vai passar a roupa, limpar a casa, recolher os resíduos?
Apenas sombras
Sapato velho, roupa rasgada
Um ser humano sem direitos
Não precisa de nada?
Alguém para lavar, limpar, catar
Mão-de-obra gratuita
Quem se importa?
Desde que deixe o município limpo e bonito
Quem se importa?
O homem caminha sozinho pelas ruas
O que é a vida para quem já está morto?
Respirando para poder respirar
Nada mais natural e significativo
Apenas mais um dia dentro da incerteza do amanhã
A única justiça é a divina
Pois a morte não discrimina ricos ou pobres
Leva a todos sem qualquer distinção
Uma flor ou uma arma na mão?
Enquanto isso o homem invisível caminha
Apenas ele e o seu cão no carrinho
Somente o amor verdadeiro salva
O resto é interesse e enganação
Ele passa sem ser percebido
Por ele passam os carros
Só é notado quando "atrapalha" o trânsito
Nessas horas as buzinas o fazem lembrar de que está vivo
Uma luta diária rumo ao desconhecido
Morando em um barraco de um cômodo perto do rio
Apenas sombras

Fonte: https://www.notibras.com/site/descubraa-influencuia-sexo-oposto-no-seu-inconsciente/

Viadutos, pontes, marginais
Às margens da sociedade
Ele só queria uma oportunidade
Mesmo assim não reclama
Não tem ninguém para conversar
O pequeno amigo só escuta
Por vezes parece entender
Ele olha as crianças brincando
Lembra da sua infância sofrida
Não reclama, apenas suspira
Imagina como é ter uma casa, carro, família
Ele acredita em milagres
A fé é a única que dá forças para continuar
Ele sabe que se cair é preciso levantar
Pois ninguém estende a mão de graça, a não ser para empurrar
A cada segundo o tempo se esgota
Desejando um mundo melhor
Somente o amor verdadeiro salva
Mas as pessoas confundem amar com armar
Brigam por coisas desnecessárias
Silenciam por coisas importantes
O homem invisível caminha
Talvez a sorte mude, nunca é tarde para sonhar
No fundo ele sabe o que muitos nunca saberão
Que somente o verdadeiro amor salva
Seja um beijo da namorada, um gato, um cão
No fundo ele sabe e segue vivendo
Um homem morto caminha
Mas ele vive
Nunca é tarde demais para acreditar
Enquanto isso o homem invisível caminha
Passa sem ser notado
Caminha
Apenas um homem que ninguém vê
Apenas caminha
Um homem invisível
Somente o amor salva.