domingo, 30 de setembro de 2018

Reflexão sobre o 7 a 1 político

A relação entre política e futebol é grande e estreita conforme já demonstrado em post anterior. Fanatismo da torcida (eleitores), agrupamento de uma parte de semelhantes dentro de um mesmo time (partidos políticos), transformação da paixão (ideologia) em consumo e marketing, compra de jogos (e votos), corrupção nas instituições (CBF, FIFA, PSDB, MDB, PP, PT, etc), copa a cada quatro anos (igual as eleições federais), estádios superfaturados sem utilidade pública ou privada (elefantes brancos), obras intermináveis e por aí vai. Mesmo assim tanto o futebol quanto a política são capazes de fornecer meios para o desenvolvimento humano.

Todo dia há um novo 7 a 1 no Brasil e agora na reta final dos campeonatos, assim como da eleição, é importante refletir sobre presente, passado e futuro no tocante a resultados e conquistas. Tendo como base a fatídica semifinal entre Brasil e Alemanha na Copa do Mundo de 2014, será traçado um paralelo-comparativo para análise do contexto atual. O primeiro gol (erro) é achar que política só é feita no período eleitoral. Do mesmo modo que o mundial de futebol é consequência do trabalho de quatros anos, assim também é com a política. Simplesmente votar e reclamar não resolve problemas.

Fonte: https://diplomatique.org.br/produto/poster-edicao-marco-2018/

O segundo erro (gol) é culpar somente a classe política. É impossível desfazer o vínculo entre legislativo, executivo e sociedade. Cobrar os eleitos sem cobrar boa conduta de si mesmo e do próximo para com a coisa pública é um cartão vermelho de prepotência e falta de autocrítica. Nós também fazemos parte do jogo, nós também somos culpados. Do mesmo modo que é a torcida que paga ingresso, compra camisa e ajuda o time a vencer, assim é com o cidadão. Só vaiar e xingar sem cantar, aplaudir e incentivar não leva time algum à vitória.

O terceiro gol (erro) é achar um culpado para tudo e para o todo. Não adianta mandar o técnico embora sem mexer na equipe do mesmo modo que não adianta impedir somente o presidente se os demais continuarão com a prática de ilícitos. A falha conjuntural não é de um só, seja treinador, atacante, presidente ou partido. Em contrapartida, o quarto erro (gol) é buscar um herói para resolver todos os problemas com um chute ou com um passe de mágica. Do mesmo modo que não existe um só culpado também não existe um salvador da pátria. Personificar o erro é uma falha nas duas faces.

Fonte: https://orelhasdevidro.com/2018/06/14/futebol-e-politica/

O quinto gol (erro) é ser o dono da verdade. Sabe aquele cara mala que sempre tem razão? Sempre sabe qual o modelo certo do time jogar, sempre sabe quem o técnico deve escalar, sempre acha que o seu voto é o melhor e que todos os outros estão errados. E pior: quer impor as suas vontades e supostas razões para o demais. Assim já termina o primeiro tempo levando uma goleada de 5 a 0 jogando em casa. Calma caro leitor que ainda tem o segundo tempo.

Apita o árbitro, mas é sempre goleada no Brasil. O sexto erro (gol) não demora a acontecer: é a falta de diálogo, a falta de respeito para com a opinião alheia, o preconceito para com a torcida adversária, a ignorância ao usar a boca e os dedos e se esquecer de usar os dois ouvidos e o cérebro. É a ofensa para com o diferente, é não resolver o problema com conversa partindo para o confronto com quem está do lado oposto ou com a camisa de cor diferente.

discutir politica e diferente de discutir futebol - Política e futebol: ‘Com brasileiro não há quem possa’ Por Carlos Lopes
Fonte: http://www.polemicaparaiba.com.br/politica/politica-e-futebol-com-brasileiro-nao-ha-quem-possa-por-carlos-lopes/

O sétimo gol (erro) está na não fiscalização, na apatia após a decepção do resultado, no abatimento do revés sofrido. É ligar o botão do "tanto faz" e copiar o errado mesmo sabendo que aquilo não é certo, é fazer porque todos estão fazendo, é furar a fila porque todos furam, estacionar em vaga proibida, passar o sinal vermelho, pegar para si o que não lhe pertence configurando apropriação indevida de bens. Tornar a corrupção uma prática comum presente na rotina do cidadão brasileiro. Uma goleada, verdadeiro massacre.

Resta um gol no placar. Um a favor depois de sete contra. É o gol da capacidade de renovação, da segunda chance. É o gol que resta, que sozinho pode não significar muito, mas é o gol que permite corrigir erros, parar com as más práticas. Pesquisar mais, analisar melhor. É o gol que pode representar uma melhora no futuro. É o gol do voto consciente visando não só a si mesmo e sim o bem comum. É a vergonha que leva à reflexão e avaliação servindo de combustível para o aperfeiçoamento. Afinal, a união faz a força.

Briga na arquibancada, na própria torcida, no campo com o apito final do juiz, no término da eleição. É preciso aprender a perder para vencer na etapa seguinte. A política está em tudo, inclusive no futebol. Não dá para apagar o Mineiraço de 2014 assim como é impossível deletar o Maracanaço de 1950. Não dá para apagar a ditadura militar de 1964 assim como é impossível deletar os casos de corrupção. É preciso aprender com os erros passados para a construção de uma sociedade mais civilizada. Não adianta protestar contra a corrupção com o logo da CBF no peito.

A culpa não é do futebol do mesmo modo que a culpa não é da política. Todo dia há um novo 7 a 1 nas escolas, postos de saúde, delegacias. Às vezes o problema está no esquema tático: ao invés de 3-4-3 funciona melhor o 4-4-2. Às vezes o problema está na sede pelo poder, na reeleição, no voto obrigatório, no sistema de troca de favores, no foro privilegiado, na discrepância de salários, na marginalização do ensino, no sucateamento dos hospitais. Às vezes o problema é o sistema que corrompe e não a política em si que traz diversos avanços para quem a utiliza bem.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Reflexão sobre o voto útil e a terceira via

Uma chuva de pesquisas de intenção de votos para os cargos majoritários (maioria dos votos sem necessitar do quociente eleitoral) cai sobre o eleitor. Senador, governador e, sobretudo, presidente. Semana passada o ex-presidente FHC (Fernando Henrique Cardoso) soltou uma carta ao público refletindo sobre a possibilidade de uma união do centro por meio do voto útil em prol de uma terceira via. Portanto, a reflexão sobre tais temas se faz relevante.

A fonte primária para o voto útil (e consequente construção de uma terceira via) são as pesquisas divulgadas amplamente todas as semanas. Sobre as pesquisas eleitorais há de se ressaltar que os respectivos resultados representam uma fotografia do que já passou tendo-se em vista que a divulgação se dá em um momento posterior ao recolhimento dos dados. 

É preciso destacar que as informações ali contidas não retratam uma verdade absoluta estando sujeitas a mudanças ao longo do tempo. Fatores como debates, discursos, entrevistas, propagandas e denúncias podem interferir diretamente no processo de consolidação do voto. As próprias pesquisas podem influenciar na decisão dos cidadãos não cristalizados.

Fonte: http://dagobah.com.br/cinco-mitos-sobre-partidos-politicos/

O voto útil é aquele que representa uma forma de combater o êxito de uma campanha que não agrada determinado eleitor. Portanto, trata-se de uma estratégia que visa enfraquecer um oponente ao invés de reforçar um posicionamento. A grosso modo seria agir movido pelo o que não gosta. Isso não significa necessariamente abrir mão de uma campanha que o representa, pois o indivíduo pode saber o que não quer mesmo sem saber o que quer. Neste caso, o voto útil se aplica perfeitamente. 

O risco está em definir o voto com base em dados que nem sempre representam a realidade. O número de indecisos e abstenções são fundamentais nos cálculos e projeções para um eventual segundo turno. A tentativa de maximizar o voto com base em uma perspectiva futura esvazia os figurantes impedindo-os de uma maior relevância. Tal cenário pode não se concretizar, sobretudo devido ao fato das pesquisas serem quantitativas. Mesmo seguindo as normas científicas, o método quantitativo isolado não é capaz de contemplar uma abrangência social. O ideal é equilibrar pesquisas quantitativas com qualitativas, conforme já mencionado em posts anteriores.

O recomendado é votar naquele candidato/partido que melhor representa os programas desejados (caso tenha). As plataformas de governo escolhidas devem ser aquelas cujo eleitor se identifica, pois o fruto de sua decisão tem o prazo de oito anos para senador e quatro para os demais cargos eletivos. Abrir mão daquilo que acha certo para o duvidoso pode gerar arrependimento em um curto período de tempo. A melhor alternativa é aquela cujo voto faz com que o eleitor fique de consciência tranquila consigo mesmo.

Partidos receberão R$ 1,7 bilhão para campanha eleitoral, informa TSE
Fonte: http://www.oobservador.com.br/noticias/partidos-receberao-r-17-bilhao-para-campanha-eleitoral-informa-tse,23429.shtml

A terceira via ganhou força devido à polarização política na qual o país está submerso desde 2014. Um eventual segundo turno presidencial entre Haddad e Bolsonaro dificultará a governabilidade de quem quer que seja, pois a rejeição já é grande de ambas as partes. Independentemente de quem vença nessa situação, a polarização política permanecerá ultrapassando as barreiras de 2018. Nesse sentido, a terceira via seria um modo de favorecer outro candidato, preferencialmente o terceiro colocado que no caso é Ciro Gomes para romper a dualidade antagônica existente. O intuito é nobre do ponto de vista de pacificação nacional, mas o voto útil em prol de uma terceira via não garante a vitória desse determinado candidato podendo resultar em uma fragmentação maior após a desconstrução entre candidatos que poderiam ser aliados no segundo turno.

Existem diferenças fundamentais entre os dois primeiros candidatos: Bolsonaro questiona a urna antes do resultado, mesmo tendo sido eleito pela mesma por quase três décadas. O seu vice, um general da reserva, cogita um autogolpe se necessário para a elaboração de uma nova constituição por notáveis, deixando a sociedade e seus representantes às margens do processo político. A incerteza da campanha extremada do PSL (Partido Social Liberal) põe em risco a manutenção da dita democracia brasileira. Ou seja, de uma oligarquia representativa corre-se o risco de uma tirania personalista.

Já a campanha do PT (Partido dos Trabalhadores) representa o respeito às normas que aí estão. Exemplos não faltam, o que faz com que a campanha de Haddad transmita maior segurança e estabilidade política: Dilma sofreu o impeachment e o acatou, Lula foi condenado e responde preso mesmo sem ter sido transitado em julgado, entre outros casos. Portanto, a campanha do PSL é uma antítese extremada daquilo que representa o seu opositor, por mais erros que o partido deste possua.

Fonte: https://portalcorreio.com.br/saiba-quais-partidos-ja-definiram-apoio-para-a-disputa-pelo-governo-do-estado/

Trata-se de um equívoco grotesco colocá-los como opostos simétricos espelhados dentro do espectro político porque o PT está para uma social-democracia de centro-esquerda enquanto o PSL baseia-se em um salvador da pátria radical e imprevisível de extrema direita. Enquanto o líder das pesquisas foca na questão da segurança explicitando déficits nas demais áreas, as outras campanhas possuem plataformas diversas. Portanto, a questão em si não é a transferência de votos ou uma via alternativa, mas sim a perda de valores. Cada escolha uma sentença.

O voto útil para favorecer uma terceira via é uma estratégia com base nas pesquisas vislumbrando um futuro incerto. É uma ferramenta legítima no sistema eleitoral cujo peso duradouro pode cicatrizar feridas ou abri-las ainda mais. Antecipar um eventual segundo turno pode significar abandonar boas ideias em prol do menos pior. O brasileiro dá grande destaque para a cadeira presidencial, mas este não é capaz de governar sozinho. É preciso equilibrar as atenções para todas as cadeiras disponíveis que serão escolhidas nas urnas e gastar energia naquilo que acredita ser o melhor para a sociedade, sobretudo em um momento tão frágil como o atual.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Reflexão sobre o sonho americano

O que você quer? O sonho americano baseado no sucesso material não é novo. Tal consolidação e influência acontece há décadas nas Américas desde a hegemonia estadunidense no cenário internacional, sobretudo a partir do século passado reforçado pelas vitórias nas duas grandes guerras mundiais e na guerra fria. Não por acaso a novidade passa a ser o atraso. Obviamente que a interferência externa ocorre em todas as partes do mundo como a chinesa na Ásia e a russa no Oriente Médio. Portanto, o recorte para esta reflexão será o contexto americano.

Quem você é? É aquilo que usa ou o que te faz pensar? Camisa de marca, fotos novas no Facebook. Por que não livro das faces? Um novo ídolo para idolatrar, talvez um popstar. Por que não estrela popular? Motos de luxo, corrente de ouro, iates, mansão, relógio importado. Smartphones ao invés de telefones inteligentes. Um filme de Hollywood, um estilo de vida sem identidade. Músicas de ostentação que não condizem com a realidade brasileira. Falta creche, hospital, trabalho e tecnologia. Please! Não é questão de nadar contra a corrente, mas uma tentativa em se encontrar. A psicologia falaria em ego, superego, id. Mas a pergunta é mais simples: quem é você?

Fonte: http://www.globalexchange.com.br/artigo.asp?txtid=583

Em que lugar você quer chegar? Estudar, trabalhar, constituir família, carreira de sucesso. Carteira profissional embaixo do braço, riscando o jornal, sem tempo nem espaço. Sonho de consumo na nova moda primavera-verão, curtidas certas na próxima estação. E a vida tem sido tão perfeita para todos em suas páginas virtuais que chega a ser difícil entender as altas taxas de suicídio e depressão. Uma viagem nova para o exterior, fotos sorridentes e uma melancolia infinita por dentro.

Até quando? A apropriação do termo americano pelos estadunidenses demonstra um completo desrespeito para com todos os outros países do continente. Americanos são todos os que vivem na América, o sonho americano é o sonho das Américas e não de um país em específico. O problema não está na globalização em si, mas no imperialismo regional que as potências mundiais tentam impor para os países próximos. Nada além do quintal, vizinhos secundários, sem importância. Jogo de poder e interesses; afinal, tempo é dinheiro e negócios são negócios. Nada pessoal, mas não se pode misturar.

Dólares ou reais? Discursos acalorados superficiais, donos de uma verdade absoluta inexistente. A realidade é diferente do imaginário. A relevância se resume em mestiços, índios, latinos, subdesenvolvidos, terceiro mundo, negros, imigrantes, no máximo descendentes de algum outro lugar melhor que não seja aqui. Mão-de-obra barata e descartável. Quem vai recolher o lixo, lavar os pratos, limpar a casa? Síndrome do desprezo querendo ser quem não é. Mesmo morando fora nunca serão nativos. Um novo Trump em terras tupiniquins rumo ao velho nacionalismo extremado que de tão novo já está antigo na Europa e nos EUA, mas em 2018 muitos querem reviver os fatos exteriores.

O que você pensa? Inversão de valores humanos por meio do processo neoliberal. Marcas importadas substituem o conhecimento, o respeito e a ética. Qualquer preço para chegar ao topo. Terno, gravata, sapato e sucesso. O resto transforma-se em algo secundário. E-mails com erros de pontuação, erros de português na concordância e gramática, mas com um inglês de avançado para fluente. Uma bandeira cujas cores misturam-se ao azul e vermelho estadunidense, estrelas estrangeiras que não são do céu verde e amarelo. Tentativa de copiar, comprar em Miami, passeio na Flórida. Na melhor das hipóteses uma cópia bem-sucedida nas bolsas de Wall Street. Não é o inferno, tampouco o paraíso.

Será tempo perdido? Está na televisão, está na internet, está na novela. Casas amplas para duas pessoas, petróleo do futuro, carros sem passageiros, porte de armas, restrição para imigrantes. Logo o brasileiro que está em todo lugar, intolerância étnica, religiosa e política. A influência estadunidense é global, reforçada no Brasil desde o reconhecimento da independência. Extrativismo vegetal, mineral, animal e humano. Patrocinadores do golpe militar de 64. Nem sempre se aprende com os exemplos históricos, pois querem repetir. E assim segue, gira sem sair do lugar. Busca implacável pelo sucesso no bussiness. Atos de espionagem praticados pelo Estado, diga o seu preço para saber se vale a pena.

Ser ou ter? Ter ou ser? Contemplar, assistir, vender, vendar os olhos para não ver. Admirar a paisagem ou comprar um quadro novo da paisagem? Riqueza suja ou trabalho honesto? Admiração por outro país ou submissão? O sonho americano já faz parte da cultura nacional, está online, está nas indústrias, está embutido no sonho de consumo do brasileiro. Peixes na rede cibernética. Resta aproveitar o que agrega e descartar o que separa. Resta refletir sobre o que somos para tentarmos ser alguém melhor e construir uma sociedade mais livre, justa e fraterna.

Fonte: http://celiosiqueira.blogspot.com/2013/08/o-sonho-americano-american-dream-vejam.html

"Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer

Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente

Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes."

Índios - Legião Urbana

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Reflexão sobre o lulismo

Meses após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sua influência política ainda é vasta, interferindo diretamente nestas eleições. Tanto é que o mesmo continua sendo assunto central dos meios de comunicação, bloqueou de dentro das celas uma aliança entre o candidato Ciro Gomes do PDT (Partido Democrático Trabalhista) e o PSB (Partido Socialista Brasileiro), líder na corrida eleitoral até o impedimento da candidatura pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), inclusive transferindo parte dos seus votos para o seu candidato. Por esses e outros motivos é importante refletir sobre o tema.

O lulismo foi um termo cunhado pelo cientista político André Singer que também foi porta-voz da presidência durante o governo Lula e corresponde justamente ao personalismo inerente à tal figura. Muito além do petismo, o lulismo é um movimento que ultrapassa as barreiras partidárias chegando a ser um componente extra dentro da própria polarização política vigente no país. De certa forma representa uma contradição ao passo em que, aliado ao carisma do líder petista, combinou políticas assistencialistas ao mesmo tempo em que garantiu a manutenção econômica e posterior crescimento desejado pelas elites e classes conservadoras, tornando-se assim aliado tanto dos banqueiros e empresários quanto dos pobres e miseráveis.

A força do populismo lulista tornou refém o próprio PT (Partido dos Trabalhadores). Lula conseguiu eleger por duas vezes consecutivas Dilma como presidenta, além de ser o carro-chefe responsável por diversas outras candidaturas regionais. Não à toa os petistas tentam utilizar a imagem do ex-presidente o máximo possível nesta eleição de 2018, mesmo tratando-se de um condenado em segunda instância. Na verdade, para os lulistas, o fato do seu ídolo estar preso não interfere em sua devoção, talvez até reforçando os laços entre ambas as partes.

Fonte: https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/8837/lulismo-o-enigma-desvendado

Sua expressividade na política pode ser verificada na própria oposição extrema por meio de Jair Bolsonaro. Este, por sua vez, construiu sua imagem graças ao posicionamento contrário ao lulismo, caracterizando como antítese ao ex-sindicalista. Desse modo, angariou o apoio daqueles que são contrários e radicais ao petismo e lulismo. Portanto, é possível concluir que a própria ascensão de Bolsonaro se fez às margens da sombra do ex-presidente Lula. 

O lulismo é um movimento independente, fluido e apartidário. A comprovação para tal afirmação pode ser retirada das pesquisas eleitorais cuja fragmentação da intenção de voto após o bloqueio da candidatura do Lula se fez de modo incongruente, pois parte migrou para Haddad, Ciro, Marina e até mesmo existe a possibilidade de uma pequena parte ir para Bolsonaro. 

Portanto, muito acima do petismo existe o lulismo e isso implica em uma problematização explícita de dependência. Desde as eleições de 1989 Lula sempre foi o candidato do PT. Ele sempre foi o líder, o tomador das decisões, a voz final nas deliberações internas do partido, o que naturalmente gerou um vício, uma necessidade lulista, uma dependência que impediu a formação de novas gerações. Lula continua querendo o poder, continua concentrando as atenções e decisões, fator que também não ajuda a independência do partido. Se tem algum beneficiado nessa relação é o próprio Luiz Inácio, inclusive atrasando a candidatura presidencial do PT neste ano.

É bem verdade que existem controversas nos processos contra o ex-presidente como a falta de provas materiais e a própria prisão em segunda instância, contrariando claramente o que diz a Constituição Federal de 1988. Lula é uma figura temida pelos adversários e a prisão dele é a única chance que os mesmos possuem de vencer esta eleição, pois está claro que se a candidatura do Lula não fosse indeferida muito provavelmente ele seria novamente presidente da república.

O fato de mesmo com denúncias outros ex-presidentes não serem presos por prescrição ou mesmo outros tantos que aí estão por foro privilegiado também deve ser levado em consideração. Sarney, Collor, FHC, Temer, Serra, Aécio, Calheiros e tantos outros livres enquanto a justiça é rápida contra Lula. Em todo caso, o país necessita de uma renovação ampla.

Fonte: http://www.jornalcorreiodasemana.com.br/sera-o-fim-do-lulismo/

Lula é a figura central da política nacional há décadas, para o bem ou para mal. Os oito anos em que o mesmo foi presidente representou o período de maior desenvolvimento do Brasil desde a redemocratização e isso é inegável. Quem não se lembra do então presidente dos Estados Unidos (maior potência mundial invejada por muitos brasileiros) Barack Obama dizendo que ele era o cara? Membros da ONU (Organização das Nações Unidas) questionam a prisão do Lula. Amado por uns, odiado por outros. Mesmo ciente da inexistência da imparcialidade é preciso realizar uma análise distanciada das emoções e pensamentos pessoais.

A vitimização não o ajuda em sua defesa, mas seu papel e desempenho no cenário político internacional certamente já entrou para a história seja pela redistribuição de renda tirando milhares da extrema pobreza em seu governo, seja pelos incentivos no ensino superior, seja pela construção de moradias para os mais desfavorecidos, seja pelo Mensalão, seja pela repulsa aos petistas, seja pelas denúncias de desvio. 

Quantos cursaram uma faculdade, possuem moradia graças às políticas públicas de seu governo ou foram favorecidos (direta ou indiretamente) pelos programas de crescimento econômico? Cuspir no prato faz parte da cultura brasileira de esquecimento da própria história, mas deve ser relembrado dentro do contexto em si. É fato que a falta de fiscalização gerou desvios exorbitantes, assim como em todos os outros mandatos do passado e do presente. É bem verdade também que a partir de 2014 não houve continuidade nas boas práticas, apenas nas ruins. Nem herói, nem vilão, mas sim um ser humano repleto de erros e acertos que carrega consigo milhares de seguidores, além de si mesmo em detrimento de outras causas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Reflexão sobre a intolerância social e política

Cheio por fora, vazio por dentro. Ausência de sentimentos. Indivíduo doentio de uma sociedade doente. Como explicar o que está no ar, mas não se pode tocar? É possível sentir o cheiro do rancor, a saliva da raiva, é possível ver manifestações de ódio e de medo. Trancados no próprio lar, irmão atacando irmão. Quando os índices de violência e intolerância estão elevados é sinal de conturbações e tempos difíceis. Como uma praga que se espalha e o diálogo já não é mais suficiente. Atitudes descontroladas desregulam a serenidade.

Cheio por fora, vazio por dentro. Divididos, separados. Uma outra forma de pensar, o repúdio à faca. Armas são armas, mesmo que pela boca ou próprio punho. Seja na passeata eleitoral, seja na briga de trânsito. Quando o ser deixar de ser humano então o que resta é chorar. Um animal qualquer agindo pelo instinto repleto de impulsos, talvez nem isso seja natureza. Vence quem gritar mais alto e então todos gritam: gritam com a boca, gritam com os dedos, gritam com os caracteres, gritam com os cartazes, gritam nos microfones para os apoiadores. Cortinas e espetáculo, pão, circo, mortadela e coxinha. Tem para todos os gostos. Todos querem a razão, todos querem estar certos, todos querem falar, mas quem restará para ouvir? Uma análise, uma ideia, um posicionamento divergente, mas infelizmente as palavras coerentes se perdem no calor das acusações.

Fonte: http://www.folhadomate.com/noticias/politica/acirramento-politico-evidencia-intolerancia

Cheio por fora, vazio por dentro. Repulsa, repugnância, ódio. De repente o que já estava polarizado torna-se um tsunami. Aonde estava o cidadão civilizado nesse momento? A discordância passa a ser sentença de condenação. A tal democracia brasileira mostra-se imatura, frágil e indefesa. A pergunta que se faz é: quem vai protegê-la? A pauta é insegurança, a pauta é falta de saúde, a pauta é o péssimo desempenho do ensino, a pauta é a destruição do meio ambiente. Todos querem respostas seja qual for a temática. Racionalização exacerbada. Dentro do acirramento político, quem sairá vitorioso? Como uma guerra com baixas de ambos os lados, todos perdem e a vitória simplesmente inexiste, assim como ocorre desde 2014.

Cheio por fora, vazio por dentro. Dedos de todos os lados, uma trincheira sem soldados. A culpa é dos caminhoneiros, a culpa é da esquerda, a culpa é da direita, a culpa é da previdência, a culpa é de quem vota, a culpa é de quem é eleito, a culpa é do outro. Não existe um próximo na sociedade do aqui e agora em que tudo é ao mesmo tempo para o "eu". "Eu" e que quem for contra é inimigo. O simplismo popular em busca de heróis e vilões. Levar vantagem é a prioridade das exigências. O depois nunca chega porque não há espaço para tolerar o diferente, o oposto, mesmo que seja o próximo. Eternamente o país do futuro, de um futuro que parece distante. Nem tudo está perdido.

Cheio por fora, vazio por dentro. Acaba o respeito, vem o medo. A emoção transforma virtudes em vícios. A imperfeição humana é natural, estranho seria se fosse ao contrário. Mas e agora, o que será feito entre a cruz e a faca? Não compreender diferentes pontos de vista é não compreender a si mesmo. E assim continua o Brasil a passos largos querendo ser alguém que não é, um primo rico do norte, talvez europeu. Bancos repletos de dinheiro, mas o bolso está vazio. Já estamos cansados de desilusões. Promessas não cumpridas, esperanças mal alimentadas, plataformas sem governos, Estado falido, conflitos não resolvidos. Talvez uma liquidação seja a solução, um corte profundo perfurando a própria pele. 

Borracha, mudando a intolerância de palavra para a tolerância — Fotografia de Stock
Fonte: https://pt.depositphotos.com/48702717/stock-photo-eraser-changing-the-word-intolerance.html

Cheio por fora, vazio por dentro. Museus ruindo, cultura em chamas, ladrões livres, honestos presos, alienação via aplicativo, vida virtual, realidade online. O contato pode ser nocivo, pode ser prejudicial. O toque pode ser a transmissão de uma doença, raiva, ira. Malas cheias, cuecas também. Mas os cofres públicos estão no negativo. Talvez vender tudo seja a solução. Isso mesmo, vamos privatizar! Já dizia Raul: "a solução é alugar o Brasil!" Falta de capacidade em olhar nos olhos e conversar. Errar é humano, persistir no erro por quinhentos anos é tolice. Nada de novo na árvore nacional cujo descaso firmou raízes de intolerância. A desinformação é a desconstrução.

Cheio por fora, vazio por dentro. Falta comida, falta água, falta moradia. Porém, mansões proliferam sem comprovantes de pagamentos, pode colocar na conta do povo! Pessoas proliferam como baratas em dias de calor, pode colocar na conta do Estado. E assim todos se eximem da culpa, lavando as mãos como Pôncio Pilatos há dois mil anos. O contrato social foi rompido, está em chamas. Armas nas mãos, armas são a solução! Calma. Soco em ponta de faca. Falta de cuidado, falta de atenção e carinho. Respire. Enquanto isso continuamos terceirizando o que realmente importa: a formação do ser humano.