quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Reflexão sobre o final do ano

Mais um ano chega ao fim e com ele as incertezas tipicamente humanas. Diante de tantos acontecimentos em um curto período de tempo fica difícil compilar todos os eventos em um texto, mas uma retrospectiva não é a intenção deste post. Como tudo o que acaba deixa marcas, creio que o mais importante aqui é refletirmos sobre o ser humano e suas condições. É inegável que nessa época do ano as pessoas fazem um esforço para serem melhores do que foram ao longo do ano inteiro, então tentarei ser sereno sem doses excessivas de ilusão otimista.

Creio que muitos concordam de que não foi um bom ano nos aspectos políticos e econômicos. Em Brasília o mesmo teatro de sempre, mas agora o novo jogo é a dança das cadeiras graças a operações do judiciário, como a tão famosa Lava Jato (talvez eleita a musa do ano). O imponderável tomou conta do cenário político, mas os fins continuam justificando os meios. Em outras palavras, o fim é a posse do poder e os meios é o atropelo social para com a população brasileira. Ao longo deste mês assisti a várias entrevistas de representantes dos três maiores partidos políticos do país (PMDB, PSDB e PT) e em todas a temática principal são os interesses e alianças para a tomada do poder, independente do que tenha que ser feito (e muitas vezes tais atitudes vão contra princípios legais e morais). 

Não precisa ser um expert em política para saber qual a situação do país e do mundo, basta assistir a Game of Thrones e lá teremos um ótimo resumo: são vários grupos que representam diversos interesses cujo objetivo é tomar o trono e reinar. Assim é com o capitalismo, como foi com o império romano, com o nazismo, com o fascismo, com o comunismo e com outro qualquer regime que chegou ao trono. Há um abismo entre o campo ideológico e a prática conforme a doutrina eleita a ser seguida. Desse modo, a tão sonhada liberdade, igualdade e fraternidade são deixados de lado. Até mesmo a Revolução Francesa teve as suas marcas negativas, dando origem à burguesia que no regime atual dita o certo e o errado para seres humanos que são tratados como gados, vistos apenas como um número entre tantos. Tudo tem dois lados e a tecnologia também, transformando a política em um meio de domesticar o povo por meio da massificação, despejando conteúdos (algumas vezes mentirosos) sem que seja realizada a devida análise e debate. Somos o gado no pasto sem saber quando será o abate.

E assim sobrevivemos: matando o tempo na internet e na tv antes que o tempo nos mate. E assim se vai mais um ano, com a sensação de que ficou muito a se fazer. Ainda há muito o que lavar para limpar o solo desta pátria. Enquanto isso o trabalhador perde direitos e garantias iludido pelo conceito de economia. O que é a economia se não um sistema criado pelo homem que vai além da troca de mercadorias necessárias para uma qualidade de vida? Vai além, muito além do que se precisa e isso faz com que poucos detenham muito e que o restante (que representa quase todo mundo) fique sem nada. E assim somos obrigados a nos submeter ao trabalho que não dignifica um ser racional, com um salário de subsistência. O que é o dinheiro se não um pedaço de papel que inverteu os valores sociais, onde o ter significa muito mais do que ser? 

Mesmo para um sonhador como eu fica difícil ser otimista e a cada ano que passa tenho a impressão de que o brilho da esperança fica um tanto quanto ofuscado na minha visão. As guerras nunca acabam. A Síria é só um exemplo de tantos outros conflitos que existem em toda parte do mudo. Veja os países ditos desenvolvidos com a incerteza do próximo atentado terrorista. Veja os conflitos na África. Na violência não existe distinção entre ricos ou pobres. Em uma sociedade moldada para a vitória, somos todos perdedores. E o medo de sair de casa de noite aqui no Brasil, onde facções criminosas estão cada vez mais organizadas, infiltrando-se na polícia e na própria política. A violência é a guerra constante de todos contra todos e nesse ponto Thomas Hobbes estava errado ao dizer que o homem era violento no estado natural e que a solução viria com a formação e manutenção do Estado e da propriedade privada. Pois bem, territórios (ou propriedade privada se preferir) ainda são alvos de disputas, guerras e mortes. E há quanto tempo que isso acontece? Certas vezes o que há é o inverso: a naturalização da violência. 

As pessoas se dizem mais propensas à fraternidade nessa época do ano, mas por que só agora? É hipocrisia querer ser alguém que não é. Passam o ano inteiro brigando para ter algumas semanas de paz. E o pior, essa paz vem banhada de álcool, consumo e imprudência. Será que a humanidade se vendeu? Apenas mais um objeto nas mãos de pessoas mais preocupada em pagar a dívida para os banqueiros do que em cuidar da sociedade que os elegeu. E refletindo temo que 2016 se prolongue, como uma prorrogação interminável de futebol, pelos próximos dez anos ou mais, muito graças a uma equipe econômica que trata a população com comprimidos de placebo. O erro não está apenas nas PECs, mas na aceitação do sistema como um todo. Enquanto houver capitalismo haverá FMI (Fundo Monetário Internacional) e haverá dívida externa por uma colonização de exploração. Haverá banqueiros e empresários faturando com a desgraça dos outros, sedentos por mais e mais, até criarem uma nova guerra. Quanto custa uma vida? Pelo visto, a cada ano que passa a alma perde seu valor,

Sabe qual a melhor parte do final do ano? É ter a esperança que ano que vem as coisas vão melhorar e que tudo pode mudar, mesmo depois de tudo o que aconteceu. É olhar para a cidade da janela de casa e sentir o vento da noite e o silêncio. Ver o céu e as estrelas e sentir a tranquilidade da vitória por vencer mais um ano. Sim, somos lutadores e vencedores por suportar mais um ano de pancadas. E com as mudanças desse ano eu tenho a impressão de que no fundo nada mudou: tudo faz parte de um ciclo de corrupção e injustiça que vem e vai. E assim é o universo: horas conspira a nosso favor, horas conspira contra, sem ao menos nos dar o mínimo de respostas e explicações. O bom de dezembro é reencontrar amigos e rever parentes, mesmo com a dor daqueles que não estão mais entre nós. E final de ano é sempre assim, é hora de voltar a sonhar e pedir para que as coisas melhorem. Desejos de saúde e paz, será que é pedir demais? É tempo de nos tornamos humanos e talvez voltarmos à consciência, mesmo que por poucos dias. 

Sendo assim, gostaria de agradecer a todos os amigos e parentes que estiveram comigo ao longo de 2016. Agradeço também a todos os que visitam o blog e que refletem comigo. E que se faça a justiça e o amor, que se faça a revolução da consciência do ser humano e do seu estado de aprisionamento. E que encontremos no final do arco-íris o nosso pote de felicidade. Espero que nossas vidas melhorem e com ela o meio em que vivemos. Que o trenó da esperança nos visite mais vezes. Feliz natal e ano novo!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Reflexão sobre a distribuição de renda

Muitas propostas de emendas à constituição (as chamadas PECs) estão em debate nesse final de ano. São utilizadas como forma de defesa pessoal dos envolvidos contra as denúncias de desvio de recursos e corrupção ativa que assolam a classe política. Renan Calheiros, do alto de seu trono no senado, adota os mesmos passos de Eduardo Cunha enquanto presidente da câmara, utilizando as votações como forma de revide ao judiciário (no caso de Cunha fora uma retaliação à ex-presidente Dilma). O governo Temer e sua articulação continuam entre a cruz e a espada: de um lado a pressão social pela melhora econômica prometida que não veio e a insatisfação com os escândalos envolvendo a cúpula do PMDB; do outro lado está a dependência do executivo para com o legislativo que os faz ficar de joelhos para obter capital político com o intuito de aprovar as suas respectivas propostas. Refletirei que a base de todas esses conflitos está na má distribuição de renda.

O fato é que com o término do mandato de Renan Calheiros como presidente do senado faz com que o mesmo adote uma celeridade nas votações de temas ainda em discussão e pouco deliberados entre o Estado e a sociedade civil. Desse modo, assuntos delicados são tratados como meros objetos de barganha cujo objetivo é a própria salvação ao invés do bem estar social. Podemos começar pela aprovação da PEC 241 (também conhecida como PEC 55). Esta estabelece um teto para os gastos públicos para os próximos 20 anos. Mas como um governo que usurpou o poder pode saber o que é melhor para o país nos próximos anos sendo que os mesmos não sabem o que acontecerá no dia seguinte? O correto seria o governo dar o exemplo com cortes substanciais na própria carne, reduzindo a estadania que hoje impera no país. 

Com essa proposta o PMDB paralisou os investimentos sem ao menos saber quais serão as demandas oriundas para os próximos governos. É como se um péssimo gestor dissesse para os outros que virão como proceder. Vale lembrar que essa má gestão do executivo e legislativo (tanto federal quanto estadual) vem levando o Brasil ao colapso do tripé primordial para a manutenção de um Estado saudável: saúde, ensino e segurança. Um primeiro passo a ser dado antes da aprovação dessa PEC seria a eliminação de vários benefícios dos políticos, tais como o auxílio paletó. Se boa parte da população vive com um salário mínimo, por que os políticos podem ganhar muito mais do que dez vezes desse valor?

Outra questão é o projeto de lei que visa combater o abuso de autoridade. Obviamente que o abuso de autoridade deve ser combatido, mas no corpo dessa proposta está a intenção de intimidar as instituições do judiciário, como o Ministério Público. Dessa forma, Renan Calheiros objetiva ter uma carta na manga caso as acusações contra a sua pessoa prossigam, tornando-o réu da justiça. A celeridade dessa votação espantou os próprios aliados de Renan, muito pelo fato dele estar acuado pelo fim do seu mandato como presidente da casa, perdendo assim parte do seu poder. O poder, sempre o poder no jogo político.

Por fim, citarei aqui a reforma da previdência, tão defendida pelo governo Temer. Parece claro para todos de que uma reforma na previdência se faz necessário. Entretanto, esta é uma proposta que desfavorece os trabalhadores e as classes mais baixas, tendo em vista que o trabalho de um cortador de cana é muito diferenciado de um administrador de empresas. Foi amplamente divulgado pela Globo News em seus telejornais a opção de uma previdência privada. O problema é que vários trabalhadores mal possuem renda para o sustento da família, muito menos teriam condições de pagar uma previdência privada (que por sinal agrada muito aos bancos). Inclusive, a jornalista Mara Luquet afirmou que os protestos da população tratavam-se de uma verdadeira falta de informação dos manifestantes que, segundo ela, agiam sem conhecer os fatos.

Pois bem, volto aqui a defender as ferramentas democráticas de participação e deliberação, referendos e plebiscitos. Novamente o governo toma atitudes unilaterais sem ouvir a opinião pública. A raiz de todas essas questões está na má distribuição de renda. Como admitir que desembargadores federais recebam mais do que 150 mil reais de remuneração, sendo que o salário mínimo vigente não passa dos mil reais? Como admitir exceções nas regras, como as concedidas a políticos e militares? Os super salários estão muito acima do necessário para se viver bem, enquanto que o salário mínimo está muito abaixo para que se tenha uma qualidade de vida. As pessoas não precisam ganhar igual, mas a distribuição de renda equilibrada é fundamental para debater questões como ensino, aposentadoria, gastos, entre outros. Sou contrário ao assistencialismo patriarcal e desnecessário, mas não podemos fechar os olhos para a desigualdade.

A sede em ter cada vez mais cria o fetichismo e o consumismo que vai muito além do necessário para uma boa vida, transformando-se em objeto de usura, assim como dito por Aristóteles em sua obra "Política". O ser há muito tempo foi substituído pelo ter e o ter é cada vez mais objeto de disputa e ostentação. Enquanto não houver um equilíbrio justo na distribuição de renda e um tratamento igualitário entre os cidadãos, a economia sempre estará em débito.  




sábado, 10 de dezembro de 2016

Reflexão sobre o endividamento dos estados brasileiros

Muitos dizem que o estado de anarquia seria o caos social completo, sem ao menos conhecer o real significado da palavra. Sendo assim, como classificar o momento atual do país (tendo-se em vista que vivemos em uma república democrática federativa)? No começo deste ano cansei de ouvir pessoas dizendo que o impeachment da Dilma seria o início de uma guinada política e econômica. Pois bem, já estamos em dezembro e ao que parece o buraco só aumenta. Basta olhar para o Rio de Janeiro que fica fácil constatar que o problema não se restringe a uma pessoa ou partido. Alguns cidadãos estão tão preocupados com políticas externas sem enxergar que o momento é de arrumar a bagunça que está dentro de casa.

Traficantes dominando morros "pacificados", o sistema de saúde na UTI, escolas sem professores dominadas por drogas, a polícia recebendo propina do crime enquanto políticos recebem dinheiro ilegal de empresas privadas para as campanhas dos respectivos partidos. Funcionários públicos e prestadores de serviços sem receber enquanto joias e viagens são pagos com o dinheiro público. Não é só o Rio de Janeiro que está nessa situação, mas é o exemplo que melhor personifica os danos da má administração que mente durante a campanha eleitoral, adotando políticas públicas que não condizem com os anseios da população. O cenário atual só reforça a minha convicção na extinção dos estados, que só geram um custo desnecessário. Desse modo, os municípios e a união seriam responsáveis pela gestação pública até que o conceito de nação fosse extinto.

Outros tópicos defendidos em minha Anarquia Social também ganham força, além da eliminação dos estados: a extinção do sistema representativo e do político profissional cuja função seria representar os demais nos assuntos públicos. A democracia atual é só uma forma dos eleitores escolherem qual elite os dominará, impondo a sua ideologia ao modo de vida dos demais, como se os servos escolhessem o seu senhor. O assistencialismo deve ser trocado por investimentos pesados em saúde, educação e segurança. Afinal, do que adianta dar o dinheiro se não ensinar a pescar? Estamos criando pessoas eternamente dependentes do Estado e a maior prova desse patriarcalismo é notado nas urnas. É preciso ter coragem para realizar os cortes necessários para ser coerente com as reformas propostas. A filosofia de fazer de tudo para agradar as massas com o objetivo único de se manter no poder deve ser evitada, pois em muitos casos contraria a prudência e a racionalidade.

As últimas delações da Lava Jato tornam mais evidente a tese que levantei no primeiro post, dizendo que o impeachment deveria ser para todos, pois um partido só não teria ocasionado toda essa crise. As pessoas se esqueceram do que é o jogo político e suas alianças, gritando nas ruas apenas "fora Dilma" ou "fora PT". Pois aí está, acusações sérias contra Temer, José Serra, Geraldo Alckmin, Romero Jucá, Renan Calheiros, Rodrigo Maia, Eduardo Cunha, Agripino, entre tantos outros. Notem que temos o presidente do país, o presidente do senado e o presidente da câmara envolvidos em um esquema antigo de corrupção. E agora? Mas o Brasil não iria melhorar já no final do ano (tipo agora)? Espero que todos os que foram às ruas com a camisa da seleção brasileira no começo do ano voltem às ruas, mas dessa vez com um discurso mais coerente e com gritos de "fora" mais abrangente, contendo também PSDB e PMDB. Os três grandes partidos do Brasil há tempos não refletem o interesse do povo e mesmo assim continuam no poder. Brasil, quando será a hora de mudar verdadeiramente? 

Permanecer do jeito que está é persistir em um sistema falido. O capitalismo já apresenta sinais de cansaço. Cansaço na cara do trabalhador que acorda às cinco horas da manhã e agora não vê sinal de aposentadoria no horizonte. Cansado ao ver o dinheiro público desviado em cuecas de grife e maletas importadas ao invés de reverter em bens para a sociedade, como mobilidade e transporte público. Cansado ao ver direitos serem perdidos por pessoas de terno e gravata que nunca souberam o que é realmente trabalhar e ser assalariado. Não sou a favor de revoluções abruptas, armadas e não planejadas, mas Marx estava certo ao apontar como caminho a revolução ou a eterna submissão. E por enquanto ainda somos os servos enriquecendo uma minoria cada vez mais rica. Políticos que nunca foram proletariados representam um povo repleto de marcas e calos. Onde estão os calos nas mãos desses que falam por nós?

Para onde foi o dinheiro dos nossos impostos, os investimentos da copa, as promessas das olimpíadas? Vamos refletir, faz bem para a mente. Não podemos nos esquecer que aqueles que estão hoje no poder e que criticam a política dos últimos anos são os mesmos que estavam com o Lula desde 2002. Tomaram o poder e agora os escândalos atingem todos os presidentes do mais alto escalão do executivo e do legislativo. O que antes eram renúncias de ministros envolvidos em casos de corrupção agora já afetam o atual governo, como um câncer que afeta todo o sistema imunológico. Espero que não seja tarde demais para que a cura seja diagnosticada. Não é possível admitir que esse governo que aí está chegue até o fim de um mandato que eticamente não lhe pertence, pois eles fizeram parte do governo do PT todos esses anos. 

Lembro-me do trecho de uma das músicas dos Titãs quando penso no governo Temer e no PMDB de um modo geral: "Não é que eu vou fazer igual, eu vou fazer pior!". As punições devem atingir todos os culpados, independente da sigla do seu partido ou da cor da bandeira que o representa. A mudança real está na educação e, posteriormente, na Anarquia Social.

domingo, 27 de novembro de 2016

Reflexão sobre a busca pelo reconhecimento

A humanidade vive uma intensa agitação política cuja economia é a causa maior do acirramento de posicionamento, transformando o debate em velhas acusações de direita e esquerda, onde os ânimos se exaltam de maneira acentuada movidos pelo impulso da necessidade e do sentimento de injustiça de modo a agir mais pelo instinto do que pela racionalidade. Não trata-se da deliberação entre o certo ou o errado e sim pela busca do reconhecimento, como já dizia Axel Honneth da terceira geração da escola de Frankfurt.

Sua teoria torna-se ainda mais relevante quando vemos paralisações de importantes vias públicas na luta pela manutenção dos direitos já adquiridos pelos trabalhadores, ocupações de escolas pelos próprios alunos buscando diálogo e participação sobre os rumos da educação ou mesmo nas manifestações nas casas legislativas contra a elaboração de leis oligárquicas que só atendem às elites nacionais. Toda essa experiência e sentimento de injustiça pode ser vista em dois estados distintos muito presentes na política brasileira, sobretudo atualmente: apatia política e conflitos sociais. Não precisamos pegar um grande período de tempo para comprovar essa teoria, basta analisar os últimos meses. 

A apatia política é notada pela falta de vontade do cidadão em participar do processo eleitoral, entendendo este como um sistema representativo de participação indireta que não corresponde às expectativas do eleitor. Há um distanciamento entre o cidadão comum e o político profissional que não age de forma responsiva para com o seu eleitorado. Desse modo, o cidadão participa cada vez menos de atividades sociais, tais como manifestações, debates, partidos políticos, entre outras formas de agir em sociedade. Neste caso o cidadão é apenas uma pequena engrenagem dentro do jogo político supostamente democrático atual, agindo apenas quando lhe cabe agir, como na obrigatoriedade do voto. Mesmo nas participações que lhe são concedidas há um intenso desinteresse, conforme comprovado pelos números de abstenção e votos brancos, como já foi comentado em posts anteriores neste blog. Sendo assim, o pessimismo Horkheimer e Adorno, da primeira geração da escola de Frankfurt, ganha força.

A outra ponta dentre as consequências causadas pela injustiça são os conflitos sociais. Não podemos aceitar o homem como um ser passivo diante dos acontecimentos que o rodeia. Não tem como não se revoltar com os crescentes casos de corrupção que, mesmo com a alternância abrupta de governo, continuam a se espalhar de forma endêmica por todos os cantos do país. Como não sentir o espírito revolucionário nas veias diante de PECs (Propostas de Emenda Constitucional) como a 241 que busca cortar da saúde e da educação ao invés de cortar do próprio governo. Assim, mais uma vez, a estadania se impõe diante da cidadania. Assim também é com a imposição da reforma da educação pelo governo sem qualquer diálogo com alunos e professores que são os principais interessados no assunto. O fato de a maioria reconhecer que mudanças devem ser feitas não tira o caráter participativo e deliberativo tão importantes em uma democracia. O mínimo aceitável seria um referendo, mas nem isso o governo Temer é capaz de fazer, afogado em escândalos em seus ministérios desde a época em que ainda era interino.

Então, caro leitor, o que essas pessoas procuram se não o reconhecimento? Entenda reconhecimento por justiça e não ao conceito de ostentação tão atual nas sociedades escrava do consumo. Tais conflitos sociais se dão não por uma rebeldia sem causa, como alegam as elites nacionais, mas sim pela busca de serem ouvidos, pela busca de que a justiça seja feita de forma plena e não unilateral. Muito se fala em agitação de modo pejorativo, mas os mesmos que apontam o dedo não abrem espaço para que seja ouvida aquela voz. Afinal, se a mídia deve mostrar os fatos como são, então por que ocultar fatos que vão contra o interesse dos mais poderosos? Se a democracia é do povo e para o povo, então qual o real motivo em oprimir suas manifestações (na maioria das vezes pacíficas)?

Como exemplo prático dessa falta de reconhecimento posso citar a empresa em que eu trabalhava há pouco tempo, conhecida também como Tecsis. A empresa vem mandando centenas de trabalhadores embora desde o começo desse ano, alegando o término dos projetos existentes sem a obtenção de novos acordos. Entretanto, o principal acionista disse em entrevista divulgada no youtube que o principal problema da empresa é a gestão. Até aí sem problemas. Afinal, empresas contratam e demitem, isso faz parte do mundo corporativo. Além do mais, má gestão não é uma doença exclusiva da Tecsis. Entretanto, caro leitor, centenas de pessoas foram mandadas embora neste mês sem receberem seus direitos, pois o prazo para o pagamento da rescisão já esgotou. Quantas mães encontram-se aflitas nesse momento? Quantos pais passarão o final de ano com a incerteza da próxima refeição? Acordos são costurados em parcelas entre o sindicato e os patrões, sem a garantia do seu cumprimento. Enquanto isso a empresa centra recursos em sua nova planta situada na Bahia e a comunicação interna da mesma apenas divulga aquilo que é de interesse da chefia, como o aumento no número de seguidores no linkedin. Tal manipulação da mídia para com a massa me faz lembrar do totalitarismo alemão e italiano nos anos 40.

Sinto-me no dever de citar este caso não somente por mim, mas também por centenas de amigos e conhecidos que estão na mesma situação. E o que nós procuramos? Apenas o reconhecimento de quem se dedicou anos pela empresa e que agora se vê pedindo esmolas na porta da mesma. Sem carteira assinada e sem previsão para a homologação. Não, caro leitor, não queremos aparecer. Nada além do que é nosso, nada além dos nossos direitos. E agora lhe pergunto: tais manifestações em busca de reconhecimento seriam ilegítimas? Obviamente que não.

O reconhecimento é um elemento democrático que deve ser respeitado em uma sociedade de direito. Ser reconhecido não é sinônimo de status e sim ter o que é seu por direito. Pois então que seja feita a justiça para todos aqueles que não foram reconhecidos, sem mais, nem menos.

sábado, 12 de novembro de 2016

Reflexão sobre a eleição presidencial estadunidense

No último dia 08 de novembro os estadunidenses foram às urnas para escolher o próximo presidente cujo resultado deixou o mundo em estado de choque com a vitória do milionário Donald Trump sobre a sua concorrente Hillary Clinton. Desde então uma onda de pessimismo político-econômico vem crescendo entre as nações, tendo como base o perfil agressivo, preconceituoso e exclusivo do agora eleito novo presidente dos Estados Unidos. Porém, creio que seja cedo para tamanho alarde. 

Primeiro temos que entender o funcionamento da eleição presidencial daquele país. Em suma, destaco três características que se diferenciam das eleições presidenciais brasileiras: 1. voto facultativo, 2. utilização de cédulas ao invés de urna eletrônica e 3. caráter indireto. Quanto à primeira diferença não há muito o que discorrer, pois lá o voto não é obrigatório, ao contrário daqui. Com isso, o candidato tem a missão de convencer o cidadão a ir votar. Com relação à segunda diferença, apesar da utilização da urna eletrônica ser reconhecida internacionalmente, a falta do substrato durante a votação, que seria um comprovante impresso após o voto com as escolhas feitas, ainda é um fator que faz com que muitos países não a adotem, mantendo assim a tradição de se utilizar cédulas de papel. 

Já a terceira diferença é aquela que causa maior estranheza aos brasileiros: nos Estados Unidos o voto dos eleitores de cada Estado servem como base para eleger delegados no Colégio Eleitoral que representarão os eleitores da respectiva unidade federativa na escolha final. Ou seja, o voto não é creditado diretamente ao candidato. O Colégio Eleitoral é formado por 538 assentos de modo que 270 votos é o número mágico para eleger um vencedor. Cada Estado tem uma quantidade de representantes proporcional ao tamanho da população daquela região. Isso significa que nem sempre o candidato que recebe mais votos é o eleito (como foi no caso desta última eleição).

Entendido o funcionamento do sistema eleitoral estadunidense, vamos aos números: Trump obteve 60.072.551 dos votos, sendo 47,41% do total. Já Hillary recebeu 60.467.601, o que representa 47.72% do total de votos. Entretanto, Trump obteve 290 votos eleitorais, vencendo na maioria dos Estados, sobretudos naqueles situados geograficamente no centro dos Estados Unidos, enquanto Hillary obteve apenas 228 votos eleitorais.

Com relação às análises feitas em cima do resultado, creio que há motivo para acender a luz de alerta, sem, entretanto, cair na frustração e desespero que muitos analistas políticos estão apontado. É fato que Trump realizou uma campanha nacionalista, repleta de marketing para atingir o público interno; afinal, estes são os eleitores. Desse modo, ele defendeu ao máximo os seus compatriotas, com o slogan de tornar a "América" grande e que ele era a melhor opção para defender os interesses dos cidadãos estadunidenses. Com isso, fez discursos machistas, racistas e xenofóbicos com propostas radicais de protecionismo comercial, criação de muro na fronteira com o México, exclusão de muçulmanos, entre outros tantos absurdos. Além disso, o mesmo já conseguiu um feito histórico: uma forte rejeição dentro do próprio partido. Entretanto, Trump ainda não começou o seu governo, de modo que há uma diferença entre falar e agir que deve ser considerada.

O Trump pode ser um bom presidente, desde que faça praticamente o oposto daquilo que foi dito em campanha. Partindo desse ponto de vista, ou ele será um bom presidente mentiroso, por não ter cumprido as promessas de campanha, ou ele será um desastre presidencial, caso realize todas as promessas. Portanto, não será de se espantar caso ele fique no meio termo. Vale lembrar que os Estados Unidos utiliza a tripartição dos poderes como um sistema de freio e balanço, de modo que o presidente não governa sozinho. Em muitas das vezes ele dependerá do Legislativo e do Judiciário, de modo que o poder Executivo não poderá fazer tudo o que quer por si só. Os Republicanos (partido de Trump) têm maioria sobre os Democratas: no Senado (51 contra 48), na Câmara (239 contra 193) e entre os governadores (33 contra 15). 

Obviamente que em um sistema presidencialista a figura paternalista do presidente tem forte influência tanto nos assuntos internos quanto nos externos e aí mora um grande risco tratando-se de Trump. Um passo errado, um discurso acima do limite é capaz de arranhar relações diplomáticas e até mesmo de gerar uma reação negativa em cadeia. O governo Trump é uma incógnita que só será revelada durante o mandato e esse foi um dos diferenciais se comparado com a oponente. Hillary representava mais do mesmo, a velha linhagem da política tradicional. Apesar de ser a mais preparada para o cargo, com ampla vivência, Hillary tem a mancha das mentiras dos casos dos e-mails, enquanto Trump assumiu com orgulho todo o seu preconceito e racismo expansivo. Quando o assunto é machismo Trump trata as mulheres como objeto, mas o marido de Hillary fez algo parecido enquanto presidente dos Estados Unidos. 

Trump representa a figura das novas lideranças políticas que estão chegando ao poder com o discurso de não serem políticos. Temos um exemplo recente no próprio Brasil em que o empresário João Doria foi eleito no primeiro turno para a prefeitura de São Paulo. Desde que comecei a escrever neste canal de comunicação venho alertando para a rápida e crescente ascensão da extrema direita no mundo, com perfis conservadores e fundos de xenofobia e totalitarismo. Pensando nas relações internacionais, a eleição de Trump é a segunda grande derrota do ano juntamente com a saída do Reino Unido da União Europeia.

Para concluir, é necessário respeitar o resultado eleitoral e a soberania daquele povo (mesmo que não seja tão soberano assim). Os estadunidenses desejavam mudança e conseguiram. Resta saber qual o resultado dessa escolha arriscada para o povo que votou e para todos os outros povos que são impactos direta ou indiretamente pelo imperialismo dos Estados Unidos. 


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Reflexão sobre as eleições municipais

É fato que o resultado da última eleição demonstra uma nova tendência política de representação nos mais distintos municípios do país e causa uma certa ruptura no que vinha se construindo nos últimos doze anos. É inegável que uma tsunami azul atingiu o Brasil, mesmo nas regiões em que não existe mar. É inquestionável também que o vermelho tornou-se desbotado, muito pela mancha revelada na operação Lava Jato. Entretanto, não houveram mudanças de fato, ainda mais em um cenário em que a sociedade civil organizada ocupa as ruas desde 2013 clamando por inovação. Nesse sentido podemos considerar que o resultado concretizado no último domingo na verdade reflete mais do mesmo.

Vamos começar com os "vencedores". Sobre isso destaco o avanço do PSDB que passou de 695 prefeituras em 2012 para 803 prefeituras agora em 2016, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Isso representa mais de 15% de crescimento, sendo o maior aumento percentual dentre os grandes partidos do país. Alguns analistas políticos apontaram o PMDB como vencedor, tendo em vista sua liderança numérica referente à quantidade de prefeituras ocupadas, conquistando 1038 cidades. O número do PMDB é expressivo, mas considero como estagnação ao invés de vitória, tendo em vista que este partido de centro tem histórico notório em quantidade de cadeiras, o que não significa qualidade, nem mesmo aumento de relevância nas maiores metrópoles do país. Se compararmos com 2012, o PMDB teve um singelo crescimento de pouco mais de 1%. 

De um modo geral, a direita conservadora sai vitoriosa das urnas, com destaque para a ascensão dos evangélicos através da figura de Marcelo Crivella que venceu a disputa na cidade do Rio de Janeiro. Geraldo Alckmin é outra face que pode ser apontada como vitoriosa, pois mesmo sem concorrer a nenhuma prefeitura viu suas apostas políticas vencerem as disputas em que participaram, com destaque para a eleição em primeiro turno do empresário João Doria a capital de São Paulo. Desse modo, Alckmin se fortalece para o cenário eleitoral de 2018, tanto externamente quanto dentro do partido. Vale ressaltar também a vitória do PSDB em Porto Alegre, o que há alguns anos atrás parecia impensável.

Já sobre os "perdedores" não há tanta divergência entre os analistas em apontar o PT que foi de 638 prefeituras em 2012 para apenas 254 prefeituras em 2016, resultando em uma queda de 60%. Essa queda é ainda mais drástica tendo em vista a perda das principais metrópoles que antes eram petistas e, sobretudo, a perda do chamado cinturão vermelho que existia no ABC, reduto do partido. A derrota percentual do PT está entre as maiores, não se restringindo apenas ao grandes partidos. 

De um modo geral, me arrisco a dizer que a centro-esquerda sai derrotada e não a esquerda, como anunciado amplamente pelos meios de comunicação de massa. Isso porque creio que partidos como PT e PC do B não representem a real esquerda política. Entendo que na contemporaneidade a dualidade entre direita e esquerda está enfraquecida, gerando uma verdadeira confusão ideológica em que partidos tornam-se vitrines de consumo e o produto são os seus respectivos candidatos. A pauta política transformou-se em plataforma de publicidade e marketing, deixando de lado programas públicos realistas e de interesse de todos. Para um anarquista que defende a Anarquia Democrática Social, o fato de exercer o direito político somente por meio da escolha de um outrem me parece mais um sistema eleitoral elitista (cujo voto é obrigatório e representativo, não havendo a participação ativa do cidadão no meio político) do que propriamente democrático (soberania do povo).

Assim sendo, considero que a esquerda permanece ocupando o espaço minoritário que já ocupava, com boas perspectivas futuras, sobretudo em torno do PSOL e possíveis alianças entre esquerda e centro-esquerda, formando juntos uma forte coalizão capaz de barrar o crescimento conservador que se multiplica atualmente em todo o mundo. Posso citar como derrotado também o presidente do PSDB Aécio Neves que a cada dia que passa parece perder sua relevância nacional, regional (em Minas Gerais) e, consequentemente, dentro do próprio partido. 

Como projeção para 2018 vejo uma disputa acirrada dentro do PSDB entre caciques antigos: Aécio, Alckmin e Serra. Além disso, vejo que o governo de Michel Temer encontra-se em dificuldades para que o PMDB lance algum candidato forte para 2018 com chances reais de vitória. Isso porque o maior aliado de Temer no momento é o PSDB e não o PMDB que mostrou a sua face traiçoeira (além de tomar o poder de um antigo aliado) na própria votação do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, caçando-a, porém mantendo os seus direitos políticos. Qual o interesse do PSDB com esse apoio? Parece-me óbvio: forçar o então presidente Temer a tomar medidas pesadas e antipopulares para que desse modo desgaste o seu governo e deixe o caminho livre para que os mesmos possam assumir em 2018. Postergar as reformas necessárias não é interessante para quem almeja o poder nas próximas eleições.

Com isso reforço a minha ideia de que é necessária uma reforma no sistema político, transferindo os poderes legislativo e executivo para o povo no qual o judiciário seria o ponto de equilíbrio no que tange aos direitos universais e na proteção das minorias. O futuro do país continua mais nas mãos do judiciário do que nessa onda de candidatos que se auto intitulam "não políticos". É fato que governar significa administrar, mas o fato de empresários tentarem se desvincular à imagem de políticos tradicionais não melhorará a política, tentando tapar o sol com a peneira.  Do modo que estamos hoje, muda-se a persona, mas a cultura filosófica enraizada na profissão política se manterá em sua generalidade.  

sábado, 22 de outubro de 2016

Reflexão sobre a guerra na Síria

O Oriente Médio é palco de conflitos entre povos desde a Antiguidade, possuindo relatos em diversos textos de diferentes nações, inclusive na própria bíblia. Os séculos passaram, mas o local permanece em constante atrito. Dentre os conflitos ali presentes gostaria de chamar a atenção para a guerra na Síria, pois não trata-se apenas de um confronto entre dois lados antagônicos que disputam o poder. Existe muito mais em jogo.

Até então as guerras caracterizavam-se, de um modo geral, por somatórias de forças em disputa no campo de batalha, como se fossem dois grandes vetores opostos em rota de colisão a fim de medir sua influência bélica para atingir determinado objetivo. Desse modo, os envolvidos no confronto formavam alianças até restar apenas dois lados dos quais resultaria em um lado vencedor e em outro derrotado. Daí tira-se a alusão da eterna luta entre o bem e o mal, na qual o perdedor se submete à superioridade do seu inimigo. A geopolítica é um grande jogo de interesses em que cada nação move as suas peças como em um jogo de xadrez com o intuito de atender às suas próprias vontades, separando os demais em dois grupos: amigos/aliados e adversários/inimigos. Essa distinção pode ser feita em diferentes cenários, seja político, militar ou mesmo econômico. Afinal, é natural que o ser humano aja de acordo com os seus desejos.

Entretanto, o que se nota na guerra da Síria é a disputa de três interesses distintos, formando um triângulo bélico cujas extremidades se confrontam mutuamente: em um dos lados do triângulos temos o exército do governo sírio Bashar al-Assad, apoiado pelo exército russo de Vladimir Putin; no outro lado do triângulo temos os rebeldes sírios inspirados pela Primavera Árabe e apoiados por grande parte dos países ocidentais europeus e, sobretudo, pelos norte-americanos de Barack Obama; por fim temos os terroristas que se auto intitulam de Estado Islâmico, que pretendem criar um califado na região, movidos por seu fanatismo religioso. Além disso temos a Turquia que hora tende aos russos, hora tende aos norte-americanos, hora combate os terroristas e hora combate as etnias minoritárias divergentes nas fronteiras do país, contando com um presidente que vem agindo de modo totalitário desde a tentativa de golpe em julho deste ano.

Além dos três lados do triângulo, existem os meios internos e externos. No meio interno de todo esse conflito triangular está a população síria que a cada dia que passa aumenta as estatísticas de refugiados, mortos e feridos. São inocentes civis cansados da guerra que já dura mais de cinco anos e que vem destruindo cidades, famílias, vidas e a esperança daqueles que sobrevivem ao massacre diário de metralhadoras e bombas. No meio externo está o restante do mundo que assiste a tudo de modo parcial ou imparcial. São pessoas, nações e organizações que não estão envolvidos diretamente no conflito (mas que podem tomar parte de um dos lados de forma inerte).

Desse modo, a guerra na Síria inova em termos globais com um jeito diferente de fazer guerra e esse não é um motivo de orgulho. Não posso afirmar que seja a primeira vez que um conflito nesses moldes se desenhe, mas não me recordo de algo parecido em nível internacional e com a magnitude em que acontece, reaquecendo a chamada Guerra Fria que, para muitos, havia sido extinta com o fim da União Soviética em 1991.

A única certeza que tenho é que dessa guerra de múltiplos lados e diferentes faces, ninguém sairá como vencedor, mesmo que assim se proclame. Afinal, nos livros de história aparecem muitas vitórias bélicas de países, mas na verdade o que fica para as pessoas (independente do lado) é recolher os cacos para tentar a reconstrução, não importando qual bandeira seja hasteada por último.



sábado, 8 de outubro de 2016

Reflexão sobre os não votos e a falta de liderança

O resultado das últimas eleições municipais deixou claro a insatisfação do povo brasileiro com a classe política. A falta de uma identificação representativa ficou evidente nos números dos não votos, que nada mais é do que a somatória dos votos brancos, nulos e abstenção. Ao analisar os indicadores dos municípios, é possível notar que há uma tendência no aumento dos não votos de um modo geral desde as eleições do ano 2000, tendo o seu auge agora nas eleições de 2016.

Em Sorocaba, segundo dados do TSE, foram 22.547 votos em branco e 50.574 votos nulos para prefeito. Se pegarmos o número total de abstenção, a informação torna-se ainda mais surpreendente: 89.156 dos eleitores de Sorocaba não foram votar. Somando os três dados obtemos 162.277 de não votos, o que representa 35,40% dos 458.334 eleitores do município – porcentagem considerável capaz de desequilibrar o resultado final dessa eleição. A problemática não reside nos não votos, que, ao meu ver, são legítimos e significativos, devendo ser respeitados. A causa raiz do problema está na falta de liderança e de propostas públicas que vão de encontra às necessidade do eleitor. Muito se fala e pouco se faz e essa e uma característica nacional. A credibilidade da política está arranhada em toda parte do planeta, haja em vista as eleições norte-americanas para a presidência, onde os candidatos possuem a maior taxa de rejeição dos últimos tempos no país.

Defendo que os não votos tenham peso na eleição, tornando-os votos que querem dizer algo além do contexto que lhe é apresentado e obrigado a participar. Como falar de política em um país cujo voto é obrigatório, porém a disciplina de ciência política não consta como obrigatória na grade curricular das escolas? Se o eleitor é obrigado a votar, então os votos brancos e nulos devem ser computados sim, pois o cidadão sai do seu lar no domingo para dar a sua voz, seja ela qual for. É assim a democracia, devem ser ouvidos mesmos os que não concordam com o sistema vigente (o que não representa uma pequena parcela da população, como demonstrados nos dois primeiros parágrafos deste texto).

Nos sistemas antigos de sociedade, a figura do chefe era traçada com características de carrasco. Essa imagem permaneceu até meados do século XX, quando teóricos do ramo administrativo, tais como Taylor e Ford, começaram a elaborar uma matriz cada vez mais robusta e definida para os líderes, fatiando o conhecimento através da divisão internacional do trabalho, com o intuito de aumentar a produtividade como meio para o fim maior, que era e ainda é o lucro do proprietário. A gestão de pessoas passou a ser ciência com métodos e princípios próprios. Porém, não é difícil ouvir relatos de funcionários que denunciam abuso de poder e assédio moral (algumas vezes até sexual) de seus superiores. Hoje o papel do líder superou as perspectivas antigas de relacionamento entre lados opostos, instaurando-se como um intermediador no conflito de classes. E é nessa carência de liderança (tanto no âmbito público quanto no privado) a que me refiro quanto ao desinteresse por parte da massa, seja como cidadão, seja como profissional.

É surpreendente que em pleno século XXI ainda vejamos nos telejornais casos de trabalho em regime de escravidão, em que a figura do líder simplesmente não existe, deixando todo o espaço a ser preenchido por donos que na verdade são senhores que impõem as suas regras. Desse modo, o ser humano deixa de ser visto como tal e passa a ser um mero objeto, uma “coisa” para que se atinja determinado fim de acordo com o interesse alheio.

No ambiente de trabalho, o entrave está na mão de obra assalariada do indivíduo que precisa vender a sua força de trabalho para sobreviver e do avanço tecnológico e, consequentemente, das máquinas, que torna o processo seriado como central, deixando o ser humano às margens, como uma contradição de lados opostos nas extremidades. A liderança surge justamente para remediar conflitos, sendo o elo de ligação entre os dois opostos para que se atinja a meta estabelecida. Tendo essa visão, o líder é a balança que equilibra a dinâmica (formal e informal), servindo de suporte para os colaboradores em busca de atingir o alvo estabelecido pelos donos e/ou acionistas. Portanto, não é exagero visualizar o líder como uma ponte em determinado grupo.

Sendo assim, é necessário diferenciar conceitos que atualmente são utilizados como sinônimos, mas que possuem perfis distintos (mesmo que a origem de ambos seja compartilhada): o chefe e o líder. Chefe é a pessoa que foca nos resultados, independente dos meios necessários para que se atinja determinado fim, este último servindo como justificativa para abusos. Já o líder é o indivíduo que foca nas pessoas, entendendo que se as mesmas estiverem estimuladas e com as ferramentas adequadas é possível atingir os objetivos estabelecidos de forma natural e sem traumas, atendendo a demanda tanto de quem executa a tarefa quanto de quem as cobra. É aquele cidadão que os demais respeitam e se espelham cuja função é fazer com que as pessoas realizem suas tarefas da melhor forma possível.

Através dessa diferenciação é possível notar que a linha entre um chefe e um líder é tênue; afinal, ambos são gestores. A atuação de tal persona é analisada diariamente por superiores e subordinados, esperando do mesmo que sua conduta ética seja adequada para desempenhar a função. Com isso, temos uma vigilância intensa sobre os líderes de ambos os lados, o que em certas vezes resulta no desgaste físico e psicológico deste.

No ambiente público é preciso citar a captura do Estado por grupos de interesse, que atingem o objetivo não por mérito, mas pelo domínio histórico e que pretendem perpetuar sua influência de modo a não ceder espaço para o novo. Desse modo, temos o impasse entre interesses políticos contra a capacidade técnica-administrativa. É preciso tomar cuidado quanto ao carisma e popularidade de certos indivíduos, que podem possuir o dom da oratória utilizado para o interesse próprio, tornando-se oportunistas que se aproveitam da descrença social na classe política. O planejamento a longo prazo, independentemente da cor da sua bandeira, é fundamental para o surgimento de lideranças capazes de alterar o status quo e administrar políticas públicas sérias e coerentes, com responsabilidade fiscal.

A liderança está presente em todos os níveis sociais, desde o presidente de determinada nação, passando pelo capitão do corpo de bombeiros até o monitor do chão de fábrica. Por esse motivo, o desenvolvimento de líderes em uma sociedade é de suma importância. Os líderes são seres históricos de modo que nem o tempo pode apagar sua memória. São lembrados pelos seus atos, sejam bons ou ruins.

Não basta para alguém que almeja a liderança dominar apenas as ferramentas administrativo-burocráticas do sistema. É preciso saber ouvir as pessoas, ter a empatia de se colocar na situação alheia, compreender as causas e motivos (mesmo que não concorde), descobrir dificuldades para que se crie soluções. É preciso ter bom-senso e responsabilidade para que se possa ser um tomador de decisões e agir de forma assertiva.

sábado, 24 de setembro de 2016

Reflexão sobre a luta de classes

O atual governo Temer vem disparando propostas para vários setores com o intuito de tirar o foco do processo de impeachment que ainda o desgasta (tendo em vista a segunda votação no senado que manteve os direitos políticos de Dilma, rompendo de vez com a democracia). Assim está sendo com a questão trabalhista, reforma da previdência e, recentemente, com a reforma educacional proposta para o ensino médio. Diante de tantas medidas desesperadas me veio à cabeça a força que o poder político representou em todas as sociedades e que ainda o faz, transmitindo uma ideologia representativa da classe dominante (a que se encontra no poder) e acima dessa ideologia há uma outra ainda maior que mantém o status quo.

Durante paralisação de um ato sindical em Sorocaba nessa semana, um dos líderes do movimentou me chamou a atenção ao falar sobre a luta de classes, citando exemplos para exemplificá-la aos trabalhadores que ali estavam. Foi possível verificar nesse discurso em específico uma atenção maior dos presentes, que em meio a tantos discursos sindicais clichês finalmente se viam representados na fala de alguém que dizia sobre a união de todos os sindicados e, consequentemente, da classe trabalhadora para manter os direitos conquistados contra o patrão que visa expandir sua influência e poder em momentos de crise como a que enfrentamos atualmente no Brasil. Afinal, tempos de crise realmente são bons momentos de oportunidades (para os que possuem capital).

Karl Marx há muito tempo divide opiniões, sendo alvo de fortes críticas e de longos elogios. Mas o enfoque que este intelectual deu ao modo de produção e às suas consequências sociais foi inovador e continua atual, mesmo que alguns discordem (muitas vezes sem conhecer a fundo a sua obra). Criticar é fácil, difícil é formular uma ótica singular e diferenciada sobre a realidade invisível, mas que se faz presente no cotidiano. Como entrar no chão de fábrica hoje e não se lembrar das cenas do filme Tempos Modernos, do gênio Charles Chaplin? Afinal, o modo de vida se modificou após a Revolução Industrial do século XIX, introduzindo novos conceitos e mantendo velhos costumes, como a luta de classes. Primeiro a sociedade era dividida entre senhores e escravos, na Idade Média foram os senhores e os servos no feudalismo e hoje temos a burguesia e o proletariado em uma sociedade capitalista que trata a tudo e a todos como mercadorias em prol do bem maior (que no caso é o lucro). 

A sociedade contemporânea baseia-se nas relações trabalhistas onde o patrão possui os meios de trabalho e o trabalhador possui a força da sua mão de obra. Este molde, que perdura há séculos, fez com que os artesãos (mestres especialistas em determinada profissão) perdessem domínio, espaço e independência sobre o seu trabalho (fragmentado nas indústrias), mudando o ambiente de trabalho radicalmente das casas para as indústrias, tendo que bater cartão e que cumprir longas jornadas de trabalho. E o que as pessoas pensam sobre isso hoje em dia? Algo normal, que sempre existiu, quase que obra da natureza. Essa falta de percepção da própria condição em que o indivíduo não enxerga a  exploração da mais-valia é a chamada alienação. 

Com o fim da monarquia absolutista na Revolução Francesa, a burguesia quebrou o paradigma existente (em que reis governam para atender os próprios interesses e aos anseios da nobreza) para criar o seu próprio. Não basta ter apenas os meios financeiros, pois a dominação se faz por meios políticos, criando leis que os favoreçam, tornando o que antes era impróprio em legal e legitimo (basta ver o caso do atual presidente que abandoou o cargo de vice e também a ética). Portanto, é possível concluir que o Estado configura a ideologia da classe que está no poder. Daí vêm as iniciativas de Temer de tentar estabelecer os seus desejos, ainda que por medida provisória, passando por cima da própria população. Não consigo entender o fato de não gerar uma discussão sobre os temas e, posteriormente, colocá-los em votação por meio de plebiscitos.

Além da organização social gerada em torno do trabalho, o capitalismo traz a concepção materialista, gerando um verdadeiro fetichismo sobre produtos e mercadorias. Faz com que o ser humano seja apenas mais um produto e cria em seu interior o desejo de consumo, almejando aquilo que não tem ou mesmo o que não precisa. O trabalhador de hoje encontra-se na defensiva, perdendo o seu perfil revolucionário. O maior exemplo disso é a luta pela defesa de direitos já conquistados. E é de surpreender até ao mais pessimista quando a câmara dos deputados tenta passar, na calada da noite, um projeto de lei que criminaliza o caixa dois de forma não retroativa, livrando assim muitos dos amigos envolvidos na Lava Jato. De um lado (poder executivo) existem propostas de aumento da jornada de trabalho e no tempo de contribuição para a aposentadoria, do outro (poder legislativo) tenta-se passar uma lei para livrar a cara de políticos corruptos punidos pela Lava Jato. E quem ouve o povo? Quem cria leis pelo povo e para o povo? Aí me vem o Temer na reunião da ONU e diz que o Brasil se encontra em um momento de estabilidade. A República Democrática Brasileira está perdida.

A posição no modo de produção se reflete na posição social. Como é visto um médico e um professor perante a sociedade? Como se veste um advogado e um operador de produção? A luta de classes é algo presente há muito tempo e a ideologia da classe dominante sempre se fará até que venha outra classe e a derrube de modo revolucionário, gerando assim um novo paradigma com as concepções da nova classe dominante. O mal do capitalismo é invisível e se encontra na aceitação diária daqueles que se submetem ao sistema. A única forma de se obter a igualdade é através da extinção das classes e do Estado.

Viva a Anarquia Social!




quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Reflexão sobre os fundamentos da anarquia social

MADS é o Movimento Anárquico Democrático Social que idealizei e se divide em dois estágios: o primeiro é a Anarquia Democrática Capital que tem como base o início da anarquia (ausência de poder) e a transição do sistema capital para o social, utilizando os recursos obtidos para a fundamentação do coletivo; o segundo é a Anarquia Democrática Social e seria o último estágio do movimento, sendo consequência do primeiro estágio. Neste atingira-se a anarquia social plena.

Vale ressaltar que o intuito dessa obra é construir os pilares para uma nova sociedade, mais madura e autônoma. Junto à anarquia os conceitos de democracia direta (que seria do povo para o povo) e do socialismo (visando o bem coletivo da sociedade). Peço ao leitor que me ajude na divulgação dos ideais aqui contidos, gerando discussão sobre o tema e, consequentemente, sobre a melhor forma de orientar os rumos da humanidade.

Espero que esta obra sirva para limpar a imagem negativa que se tem sobre a anarquia. Imagem esta construída ao longo dos últimos séculos, atribuindo-lhe características que não são verdadeiras. Espero também que sirva de incentivo para o pensamento político, ampliação na participação social e busca por novos conhecimentos. Segue abaixo os tópicos base para o meu manifesto anarquista:

Anarquia Democrática Capital (1° passo)

·* Ausência dos Poderes Legislativos e Executivos, tornando a Administração Pública de responsabilidade regional (de uma determinada comunidade), com fiscalização do Judiciário local;
·* O funcionalismo público será mantido, devendo obediência à sociedade (detentora do poder) por meio das leis criadas nos plebiscitos. Os cargos vitalícios deverão ser revistos quanto à sua aplicabilidade e resultados. Sugiro auditorias temporais para tal avaliação;
·* Plebiscitos quadrimestrais para a elaboração de leis, emendas e Administração Pública;
·* O Judiciário será reforçado em seu quadro funcional para aumentar a rapidez e eficácia de suas análises e julgamentos;
·* O Judiciário será mantido com as atribuições que já lhe são concedidas, ou seja, decidirá litígios em definitivo seguindo as leis e, também, funcionará como sistema de contrapesos;
·* Filosofia da meritocracia em todos os nichos da sociedade, sem favorecimentos por meio de indicações pessoais;
·* Ética utilitarista em processo de transição para a ética do dever;
·* Estado de Direito;
·* Democracia direta (sem a eleição de representantes através do voto);
·* Primeiro estágio para a transição entre o sistema Capitalista Globalizado atual e a Anarquia Democrática Social. Ou seja, as diretrizes que regem a vida social serão mantidas;
·* Eliminação das divisas territoriais internas (exclusão da divisão geográfica e política entre estados e municípios);
·* Os representantes da nação para as questões internacionais serão os membros do Supremo Tribunal Federal e deverão representar os interesses da maioria da população. Os cargos do Judiciário serão preenchidos através de concursos, não podendo ser eletivos (meritocracia);
·* Extinção de programas governamentais assistencialistas como o bolsa família e o auxílio-reclusão. A seguridade social será mantida – saúde e assistência social para todos / previdência social somente para contribuintes;
·* Entende-se por contribuintes, além das questões já existentes, a prestação de serviço comunitário, de qualquer natureza, para o progresso social. É preciso haver o contrato social entre o colaborador e a sociedade. Exemplo: a dona de casa que dá aulas de informática para idosos por meio de um contrato de prestação de serviço com a sociedade e validado pelo Judiciário.
·* Não tributação trabalhista dos funcionários do sistema público, garantindo-lhes a previdência social e caracterizando-os como contribuintes para a construção e progresso da sociedade. Entende-se como contribuintes do funcionalismo público as pessoas que prestam serviços sociais, não sendo, obrigatoriamente, concursados. Exemplo: um professor dá aula por meio de contrato com a sociedade, mesmo não sendo concursado;
·* Foco da Administração Pública em educação, saúde e segurança (os três principais pilares para a base do cidadão);
·* Voto não obrigatório e universal para todos os cidadãos com idade mínima de 15 anos completos no dia da votação de determinado plebiscito;
·* Deixar claro os conceitos anárquicos e a diferenciação entre anarquia (ausência de governo) e anomia (ausência de leis e regras).

Anarquia Democrática Social (2° passo)

·* Liberdade, igualdade e fraternidade;
·* Segundo e último estágio do Programa Anárquico;
·* Eliminação das divisas territoriais externas (exclusão da divisão geográfica e política entre nações);
·* Desenvolvimento de medidas alternativas ao Sistema Capitalista Globalizado, priorizando, sempre, a questão social;
·* Reinvenção da Economia, mudando o foco do dinheiro para o cidadão (detentor de direitos e deveres);
·* Ética do dever (kantiana);
·* Abolição do sentimento individualista por meio de estímulos coletivos;
·* Alteração da visão do lucro para a construção do social, buscando qualidade de vida em temas como mobilidade urbana e carga de trabalho;
·* Valorização da zona rural e incentivos para o plantio comunitário para o abastecimento social;
·* Combate ao adensamento demográfico e à superpopulação;
·* Universalização da língua (adotando-se um idioma oficial e comum para todas as regiões);
·* Investimento em pesquisa e tecnologia;
·* Estado laico (sem religião oficial e sem ensino religioso nas escolas para, que desse modo, não haja privilégios e diferenças entre as doutrinas). A liberdade de escolha e de expressão serão mantidas;
·* Abolição dos signos nacionalistas, desestimulando assim o sentimento patriota (sem hinos, bandeiras e demais signos);
·* Escola em período integral, ofertando no período da manhã o ensino de disciplinas tracionais e no período da tarde o ensino de disciplinas interativas como xadrez, música e esportes;
·* Inserção das disciplinas de ciências sociais no Ensino Médio (ciência política, sociologia, antropologia e direito);
·* Jornada de trabalho máxima de 30 horas semanais com salários em espécie (dinheiro), mas podendo ser também em outras formas de troca social econômica (este último deverá ser melhor elaborado por economistas especializados). O intuito é gerar mais empregos e que os salários não sejam tão diferentes (respeitando a capacitação individual de cada colaborador);
·* Igualdade de oportunidades com o intuito de diminuir a desigualdade social (sem diferenciação dos seres, seja racial, religiosa ou qualquer outro tipo de classificação social divisória);
·* A Mais-valia (lucro) terá que ser revertido para a sociedade, com investimento em questões fundamentais como educação, saúde e segurança. Desse modo, a sociedade terá a integralidade daquilo que é produzido pela força de trabalho;
·* Transformar os bens culturais e históricos em patrimônios da humanidade, do mesmo modo que já é feito com o Cristo Redentor e a Torre Eiffel;
·* Políticas de preservação e priorização do meio ambiente, respeitando os aspectos normativos dos plebiscitos e o bem-estar social.

Exemplo prático: pense em um condomínio onde temos a figura do síndico e demais agentes responsáveis pela administração do local. O sistema anárquico proposto é a extinção dessas figuras, onde cada morador será responsável igualmente pela gestão / manutenção / fiscalização das normas internas do condomínio. Todos terão direito a voto em plebiscitos internos, mas não serão obrigados a votar. As regras estabelecidas não poderão ser contrárias às leis universais cujo foco é a preservação do ser humano. Atualmente toda a responsabilidade é atribuída ao síndico e por isso muitas pessoas não se preocupam com a preservação do local, pensando apenas no seu (individual). Entretanto, são vários os casos em que síndicos desviam verbas e não contribuem para o bom funcionamento do local. O intuito é a participação de todos.


O melhor sistema é aquele que visa o bem estar social de todos. Talvez o nome mais adequado para o programa proposto seja "minha utopia social", pois que seja sonho de um futuro melhor até que se torne realidade. Vale lembrar que o pilar principal é a educação de qualidade. Sem educação é impossível ter o sistema anárquico proposto. Ajude-me a repensá-lo e construí-lo.

domingo, 28 de agosto de 2016

Reflexão sobre a anarquia

Desde o final do século XIX e início do século XX, a anarquia tornou-se popular pelas propagandas ligando-a ao caos e destruição. Patrocinada por instituições políticas e religiosas, essa visão errônea fez com que a ideologia anárquica fosse deixada às margens da sociedade, sendo tratada como uma forma de pensamento extremista e inadequado até os dias de hoje.

O que muita gente não sabe é do seu real significado cujo objetivo é atingir uma evolução social. Dentro dessa linha de pensamento existem diferentes segmentos com diferentes propostas. A falta de conhecimento leva a massa a um preconceito contra essa forma de reflexão, recriminando seus seguidores e deixando-se influenciar pela opinião pública que, obviamente, apresenta um ponto de vista que seja favorável à suas ações e relações. As classes dominantes não querem perder seu poder por posses territoriais, contas exorbitantes provenientes da exploração da classe operária como um todo.

O A da Anarquia não deve ser encarado como sinônimo de armas e, sim, como a igualdade entre todos os seres humanos, formando uma sociedade única, sem divisão territorial, sem bandeiras nacionalistas, sem hinos que exaltem guerras passadas e futuras e, sobretudo, sem o comando de um partido ou pessoa. As pessoas nascem para viver, nascem livres. Somos todos iguais e por isso, não precisamos de uma hierarquia regendo o sistema e dizendo o que fazer e como fazer. Quando o poder é dado para uma pessoa ou um grupo, automaticamente estaremos tratando a sociedade com diferenças. Privilégios isolados não representam o conjunto. O poder corrói e sobe à cabeça da humanidade, podendo formar ditadores tiranos e lideres excêntricos que visam a dominação ao invés da distribuição.

Em outras palavras, o capitalismo é a forma mais rápida de sustentarmos o egoísmo e a individualidade, agredindo o próximo e o meio em que vivemos. A população esquecida e injustiçada acaba pagando por atos corruptos daqueles que deveriam estar representando seus eleitores. Temos que quebrar o tabu de que política não se discute.

O medo de novos pensamentos em prol de um objetivo ainda maior é tudo que o sistema capitalista quer: soldados desinformados que abaixem a cabeça e digam sim para o Senhor Soberano. Por que não discutirmos sobre um sistema que visa a evolução do homem como um todo? A alienação do cidadão é o pior mal dentro da dinâmica mundial vivida na globalização.

O imperialismo dominante nos dias atuais pelos países que se dizem desenvolvidos é uma forma de exclusão do “restante” do planeta. É o domínio das pessoas, tratando-as como massas para a realização de interesses oligárquicos e/ou autocráticos. A democracia atual está envolta de demagogia em que é possível notar, em seu interior, traços de tirania espalhados pelo globo. A industrialização é a escravidão dos tempos modernos, oriunda do mercantilismo expansionista medieval até chegar à contemporaneidade. É esse tipo de sistema desigual que você pretende para seus descendentes? O que eles têm que os tornam tão especiais? Parto do princípio de que os homens são iguais perante a sociedade, respeitando suas particularidades e sua dignidade. O caráter foi trocado pela barganha de quem paga mais. Fantoches nas mãos de terceiros, um simples número, objeto substituível.

Condenação de manifestações pacíficas só porque as mesmas não concordam com determinada ideologia adotada pelo governo. O Estado tem agido violentamente contra a oposição em todos os continentes. No Brasil, especificamente, políticos corruptos chegam a se aliar a grupos criminosos para atingir seu objetivo de se tornar um falso representante da população. A representação democrática é apenas uma forma de aumentar a desigualdade, proporcionando poder para muitos que não estão aptos a conduzi-lo de forme ética. Creio que a democracia direta, realizada através de referendos e plebiscitos, seja muito mais compatível à vontade do cidadão.

O que dizer do voto obrigatório, do alistamento militar obrigatório, dos tributos abusivos, das viagens parlamentares particulares gastas com o dinheiro público? O moralismo exacerbado com base em uma política distorcida cria barreiras invisíveis cujo objetivo é favorecer quem está no poder. A ostentação da riqueza agride a cultura mundial com palavras de ordem ao consumo e banalização do bem mais precioso que temos: a vida.

Anarquia significa ausência de um poder central e por esse motivo creio que chegue muito mais próximo da democracia, tão citada na sociedade moderna, do que propriamente as repúblicas que hoje existente no cenário internacional. Uma forte fonte de inspiração são os ideias de Revolução Francesa de 1789, tendo em mente sempre os três princípios fundamentais para o bem social pensados por Jean-Jacques Rousseau: liberdade, igualdade e fraternidade.

Muito se fala da liberdade de hoje, sobretudo no ocidente, e essa é uma afirmação que não se pode negar. Porém, pergunto-me quanto à igualdade e fraternidade. Creio que estamos longe de alcançar a justiça e paz tão desejadas pela humanidade. Não busco com este material ser dono da verdade ou revolucionário sem causa. É apenas uma forma de pensar fora da caixa dogmática e paradigmática construída ao longo dos últimos séculos. O foco no consumo e no acúmulo de bens tirou a centralidade do ser humano. 

O capitalismo é uma realidade que não será alterada do dia para a noite. Porém, busco iniciar o debate, levar à reflexão e, desse modo, construir uma sociedade melhor com a participação de todos. Juntos, unidos não por uma ideologia qualquer, mas pelo bem social.

sábado, 13 de agosto de 2016

Reflexão sobre o governo interino

Três meses após o afastamento da presidente Dilma Rousseff de suas funções, iniciou-se o chamado governo Temer que desde o início se envolveu em polêmicas. Agora, na reta final do processo de impeachment, a probabilidade do governo interino deixar o poder é mínima. Entretanto, é preciso refletir sobre os motivos desse processo e suas consequências. Afinal, trata-se de uma alteração por influências, carregada de estigma e paradigma, em que a mudança em si não significa um avanço social nacional.

O fator determinante para o processo de impedimento está na falta de controle e de apoio do governo Dilma para com o Congresso Nacional. Mesmo este sendo bicameral, a presidente obteve ampla derrota em ambas as casas. Muito se fala das famosas pedalas fiscais, mas creio que este seja apenas o argumento encontrado pelos opositores para utilizar como base para a retomada do poder. Afinal, pedalas fiscais houveram nos governos anteriores ao da presidente Dilma e pedidos de impeachment também (e não foram poucos). Porém, nem as pedalas anteriores, nem os pedidos de impedimentos anteriores tiveram sequência. Isso porque nos casos anteriores os governos detinham forte influência política, garantindo maioria no Congresso Nacional. Desse modo, é possível concluir que o motivo para o afastamento definitivo do governo Dilma é a falta de articulação política e não necessariamente os crimes cometidos pela sua equipe.

O processo de impeachment é político e no caso atual isso torna-se claro. Na época do governo Collor, o então presidente em exercício cometeu o crime, de modo que a compreensão dos fatos e do processo foi mais simples, tanto para as instituições quanto para a população. Porém, agora o crime está na gestão, o que causa um racha na opinião pública. O fato é que das outras duas vezes em que os vices assumiram o poder (José Sarney em 1985 e Itamar Franco em 1992) tiveram participação ativa somente após o fato consumado (no caso do Sarney foi a morte de Tancredo e no caso do Itamar foi a renúncia de Collor após a abertura do processo de impeachment). Já no caso de Michel Temer, o mesmo teve participação ativa antes mesmo do processo de impedimento, responsável pelo racha na base do próprio governo alegando descontentamento com as medidas de um governo do qual ele sempre fez parte. Portanto, Michel Temer agiu nos bastidores, antes mesmo do impeachment, e age agora para sacramentar a tomada do poder.

Para obter tal sucesso no processo de impedimento, Michel Temer teve que se submeter politicamente para angariar apoio, manchando o seu governo logo no início ao fazer escolhas políticas ao invés de escolhas técnicas para os cargos de ministros. O pior dessas escolhas está no fato de serem políticos com a ficha suja, contrariando as manifestações anticorrupção que ocorrem no país desde 2013. Como não lembrar de Romero Jucá, Fabiano Silveira e Henrique Alves? As denúncias da Lava Jato chegaram também diretamente à pessoa de Michel Temer com acusações de pedido de recursos ilícitos para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo em 2012. Ou seja, se queremos uma política limpa e justa estamos no caminho errado.

Outra questão que deve ser levantada é que Michel Temer integrou o governo Dilma desde o início, sendo vice nas eleições de 2010 e 2014. Mais ainda: o PMDB foi vice do PT desde a era Lula em 2002. É estranho pensar em um rompimento político de uma aliança de longa data tão próximo das eleições. Afinal, se o PMDB e o Michel Temer estavam insatisfeitos com o governo Dilma, não deveriam estar na mesma coligação em 2014. No momento em que o governo mais precisava, em que a pressão das manifestações aumentaram sobre o governo Dilma e a crise econômica mostrou suas garras, o PMDB pega suas coisas e abandona um aliado de mais de uma década. Amigos apenas nos bons momentos? Insatisfeitos com as denúncias da Lava Jato, sobretudo o então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, o PMDB abandonou o governo e disparou contra os antigos aliados, almejando a queda do PT e a retomada do poder. Movidos pela ganância, não bastava demonstrar sua fraqueza abandonando uma parceria na hora em que mais se precisava de apoio, mas também colocaram-se na oposição, contra o governo que eles mesmos fizeram parte e ajudaram a construir. Literalmente um tiro no pé. É impossível o PMDB alegar imparcialidade na gestão tanto do governo Lula quanto do governo Dilma. O PMDB fez uma aliança com os seus antigos opositores; afinal, o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Desse modo, o PMDB demonstra uma oposição mais dura em poucos meses do que foi a oposição do PSDB ao longo de anos.

Já no governo interino, Michel Temer prometeu mudanças. Mas de fato, quais foram as mudanças? O número de desempregados só aumenta, os gastos públicos também. Aumento de salários para alguns cargos públicos, alinhamento com o empresariado e sinalização de mudanças, para pior, nas questões trabalhistas. No momento a melhora social continua só no discurso, buscando o apoio dos capitalistas para a melhora da economia, onde estes teriam ainda mais vantagens no nosso país subdesenvolvido. O medo é o da perda de direitos já adquiridos. O que se esperar de um governo refém de uma classe política manchada? Não me esqueço da campanha eleitoral de baixo nível para a presidência realizada em 2014. Mentiras foram ditas de ambos os lados e se o PMDB fazia parte de um desse lados, então concluo que o mesmo está acostumado à mentiras.

Para finalizar o raciocínio, gostaria de deixar claro a participação do governo interino nos governos anteriores. Isso não significa que o governo Dilma esteja isento de culpa na má administração federal, mas foi vítima da traição dos que estão no poder porque, no final das contas, o PMDB dança conforme a música para se manter no topo, mesmo sem ter candidatos. Creio que a mudança tão esperada pelos brasileiros venha da Lava Jato e não do governo Temer. Não posso deixar de citar um sentimento que tenho de que há um componente machista em toda essa ação. 

É possível concluir que mudaram as peças, mas a política brasileira continua a mesma. A diferença pode ser feita pela sociedade e pelo judiciário, não pelo governo Temer. Mesmo com as mudanças, tenho a sensação de que o status quo permanece, repleto de estigmas e paradigmas.





domingo, 31 de julho de 2016

Reflexão sobre o consumo

Mais um mês que termina e é engraçado como a cada mês que passa a opinião pública é forçada a focar em datas comemorativas. No momento a bola da vez são as olimpíadas e o dia dos pais. Somos bombardeados por diferentes tipos de mídias a consumir o produto da data em questão. Por outro lado, é estranho andar pelas ruas e ver pessoas alheias a tudo isso, matando um leão por dia para sobreviver. Refiro-me aos moradores de rua, presentes embaixo de cada viaduto da cidade, sempre com um cão como companheiro, dividindo muitas vezes o pouco que tem. Volto a minha reflexão para a "sociedade civilizada" e vejo parentes se matando por herança, relacionamentos construídos à base de interesses e a distorção de valores, onde o ser é cada vez mais apagado pelo ter.

Lembro-me de acordar antes do sol nascer para ir ao trabalho e desde cedo encontrar pessoas revirando os lixos da cidade em busca de sobras. De um modo mais específico, lembro da cena de um pai que levava o seu filho para "passear" no mesmo carrinho em que juntava latinhas de alumínio para o sustento da família. Ao lado, um cachorro que acompanhava fielmente os seus donos. A impressão que a criança e o cachorro transmitiam era de realmente ser um passeio, apesar de tão cedo. Já no semblante do pai havia a serenidade de não assustar o filho e focar na missão do dia: obter recursos para o mantimento familiar. 

Em meio às latinhas fiquei imaginando o caminho que elas levaram até ali. Eram, em sua maioria, latas de cerveja. Portanto, suponho um churrasco ou algum outro tipo de confraternização. Imaginei o quanto aquelas mesmas pessoas já haviam reclamado de situações da vida, desejando naquele momento apenas celebrar, esquecendo assim os seus problemas cotidianos. Lembrei do descaso com o próximo em uma sociedade cujo objetivo é obter lucro e vantagens. Vivemos sob o raciocínio do utilitarismo, onde os fins justificam os meios, como diria Maquiavel. Desse modo, o fato de esquecer do próximo e até mesmo passar por cima de outras pessoas não seria o problema, desde que o objetivo capitalista seja alcançado. Traçando um paralelo ao caminho das latinhas, desde o mercado até o lixo, imaginei algo ainda mais sério: qual teria sido o caminho traçado pelo pai e pelo menino até aquele ponto?

Quantas latinhas na rua, agredindo o meio ambiente, com a desculpa de que poluindo a cidade o indivíduo estará fazendo um favor social gerando novos empregos? Enquanto isso, o Estado fecha os olhos para os seus filhos não ilustres, fechando as portas das oportunidades para os que se encontram às margens da sociedade. A distribuição de renda se concentra cada vez mais para empresas e bancos que buscam constantemente o capital selvagem. O que realmente retorna para o cidadão? São tantas as portas abertas para a criminalidade, mas por que o trabalhador perde espaço? Eles querem filas de cabeças não pensantes aguardando horas pela abertura de portões para a disputa de poucas vagas de emprego.

Com a crise essa questão tende a piorar. Mais pessoas desempregadas, menos vagas abertas...faça as contas. Com isso, os capitalistas ficam cada vez mais exigentes na sua seleção profissional e o trabalhador sofre com a redução de salário, aumento de jornada e com o risco de perder direitos trabalhistas já adquiridos. A filosofia que impera é do um contra o outro ao invés do um pelo outro. Não é difícil imaginar como será o final dessa estória. E assim, a história se repete. A cada crise econômica há um retrocesso social que só favorece os mais privilegiados que, na maioria dos casos, são aqueles que já possuem dinheiro. Afinal, quem estará apto para uma vaga de estágio que pede inglês fluente, alemão intermediário, certificado de nível avançado para ferramentas como autocad e office e, como se não bastasse, experiência na área de projetos? Todos são capazes de concorrer à vaga, mas a probabilidade está a favor dos que possuem maiores recursos financeiros, tendo em vista que não há igualdade de oportunidades. Desse modo, é possível que o menos privilegiado atenda todos os pré-requisitos e conquiste a vaga, mas para isso o mesmo terá que traçar um caminho maior e mais árduo.

Nesse sentido, o consumo é estimulado sem pensar nas consequências. Qual será o presente do pai catador de latinhas? E em outubro, qual será o presente do filho? E a cada dia há uma nova celebração para se gastar e um novo evento para consumir. O conforto é a bandeira levantada pelos capitalistas e concordo que o ser humano deve buscar constantemente a qualidade de vida. O que procuro trazer com este texto é a reflexão sobre os excessos de consumo, ou seja, aquilo que é puramente ostentação e que está acima do necessário e do conforto. É aquele consumo exagerado que de tão desnecessário chega a ferir a sociedade. Um exemplo são os vários relatos de desperdício de alimento em que muitos agem pelo impulso, gerando uma alta quantia de sobra no lixo. Errar é humano e todos nós cometemos erros, mas se não há culpa em comprar bebida alcoólica em uma quantidade monstruosa, qual o problema em doar dez reais para alguma instituição de caridade que desenvolva um trabalho sério, seja ela qual for? 

Para encerrar este texto farei uso das palavras do pensador Renato Russo: "Sempre precisei de um pouco de atenção, acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto e nesses dias tão estranhos fica a poeira se escondendo pelos cantos. Esse é o nosso mundo, o que é demais nunca é o bastante e a primeira vez é sempre a última chance. Ninguém vê onde chegamos, os assassinos estão livres, nós não estamos. Vamos sair, mas estamos sem dinheiro, os meus amigos todos estão procurando emprego. Voltamos a viver como há dez anos atrás e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas. Vamos lá, tudo bem, eu só quero me divertir. Esquecer dessa noite, ter um lugar legal pra ir. Já entregamos o alvo e a artilharia, comparamos nossas vidas e mesmo assim não tenho pena de ninguém."

O consumo descontrolado é ostentar o que não precisa ou mesmo o que não tem. A busca pelos holofotes é predatória, passando por cima de inocentes para atingir objetivos individualistas. O consumismo é a troca do coletivo pelo individual, é a inversão de valores onde o ter é maior do que o ser. Desse modo, vivemos em um teatro de vampiros.